O 2015 e o 2016 de Laís da Silva, cinco anos, do Morro Santana, em Porto Alegre, pareciam fadados a ser dentro de um hospital, onde a menina faz quimioterapias para combater um câncer abdominal. Para complicar ainda mais a situação, a mãe, Karina da Silva, 33 anos, e as duas irmãs de Laís _ Julia, sete, e Luana, 15 _ tinham perdido a casa da família e viviam há cinco meses num cômodo cedido por um parente. No final do primeiro semestre deste ano, quando tudo parecia inalterável, surgiu na vida da menina um grupo de amigos liderados pelo microempresário Ari Pereira Dias, 53 anos. Eles fazem parte do projeto Mudando Vidas, existente há dez anos, que promove ações solidárias para ajudar famílias carentes.
Ao conhecer a história de Laís, Ari não teve dúvidas de que precisava ajudar. Ele reuniu os voluntários e, juntos, promoveram festas beneficentes, venderam rifas e arrecadaram doações. No início de novembro, a menina e a família se transferiram para uma casa de seis cômodos comprada com o dinheiro das ações. E a vida delas começou a mudar! Para Laís, Ari é como um anjo.
Casado e pai de duas meninas, Ari dedica parte da semana a promover o bem. A família entende e o apoia. Hoje, o Mudando Vidas auxilia 20 famílias e cinco instituições com cestas básicas, compra de medicamentos, fraldas e roupas. Mas o movimento, sem vínculo político ou religioso, garante que o projeto não é assistencialista. O objetivo é dar condições para que os auxiliados possam voltar a caminhar com as próprias pernas. Como o próprio grupo afirma, "sempre há espaço para quem quer fazer a diferença e ajudar o próximo, sem esperar por medidas vindas dos governantes".
O começo
"Éramos colegas de trabalho, numa agência bancária, quando surgiu a oportunidade de ajudarmos uma família. Começamos há dez anos, sem ideia de que continuaríamos depois daquela experiência. Todos sentiram um sabor muito grande de felicidade, de alegria por ajudar ao próximo. Não paramos mais de fazer o bem às pessoas. O grupo envolvido com as ações, hoje, tem em torno de 30 pessoas. Tem empresários, donas de casa, psicólogos, dentistas, funcionários públicos, jornalistas. É uma turma que se reúne em torno do bem."
Abraço
"Laís, ela veio na sequência de um outro caso de criança que enfrentava o câncer _ e hoje está praticamente curada _ que ajudávamos. A conhecemos no mesmo hospital. A primeira vez que nós tivemos contato com a família da Laís foi quando demos uma carona no retorno dela para casa, depois de mais de 30 dias internada. Quando chegamos na casa dela é que vimos a necessidade que elas passavam. Tinham perdido a casa e estavam vivendo de favor numa peça que nenhum animal poderia viver. Formamos uma corrente na volta dela e dissemos: 'Vamos abraçar a Laís'."
Inspiração
"A minha sensação e a de todos os companheiros que acompanham a Laís e a família dela é de imensa felicidade. Em meio a tantas dificuldades, ela está feliz. É uma guerreira! E nos motiva a continuarmos beneficiando o próximo. A nossa maior inspiração é Ele (Deus). Mesmo 2 mil anos depois, tudo o que Ele ensinou continua moldando o nosso pensamento, a sociedade, e nos inspirando."
Lição
"O Mudando Vidas me fez aprender muitas coisas. Ganhei novos valores. Especialmente, a olhar o próximo com carinho, não ser egoísta, saber dividir, saber compartilhar, saber compreender e amar sem julgar. Ao longo deste período, com as experiências que vivenciamos, nós todos crescemos."
Metas
"O que nos movimenta hoje é o desejo de fazer o bem porque isso nos faz bem e faz bem para as pessoas que fazem parte do projeto. Sinto que tem muita coisa para fazer. Acima de tudo, essas pessoas merecem muito mais. A gente sente que tem esta obrigação. É uma questão de justiça social."
Karina, mãe de Laís
"Antes, ficávamos uma semana em família e dois meses no hospital. Laís sonhava em ter um quarto, e ficava triste quando voltávamos para a casa emprestada. Hoje, ela só vai ao hospital três vezes por semana para fazer as sessões de quimioterapia. E volta correndo para brincar no quarto que ela divide com a irmã. Vejo ela sorrindo mais vezes. Está feliz, apesar de tudo. Ter uma casa mudou bastante coisa. Nos motivou a voltar a viver. Quero começar a trabalhar em casa fazendo doces e salgados para vender. Agora, tenho espaço para isso e poderei ficar com as minhas filhas. O Mudando Vidas não mudou só a vidinha da Laís, mudou a nossa também!"