Uma nova manifestação dos moradores da ocupação Bela Vista, em Porto Alegre, promete parar a Capital na terça-feira caso seja confirmada a reintegração de posse marcada para as 6h. Nesta segunda, o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul negou um recurso que pedia o adiamento da reintegração. Com isso, cerca de 350 famílias que moram no terreno de quatro hectares pertencente a investidores privados terão de deixar o local.
– Vai ser um protesto de muitos dias se a reintegração for feita. São mais de 15 mil pessoas nos apoiando – conta o presidente da comunidade Bela Vista, Gean Carlos Girelli.
Girelli ressalta que o protesto terá várias frentes que paralisarão simultaneamente as principais vias de Porto Alegre assim que a desocupação for colocada em prática.
– Vai ficar tudo parado. Nós vamos trancar a freeway, Mauá, Farrapos, Sertório, Cavalhada, Assis Brasil....
A única reivindicação dos moradores, segundo Girelli, é permanecer no local durante o Natal e o Ano-Novo. Se o pedido da comunidade for atendido, ele garante que os moradores deixam o terreno de forma pacífica no dia 2 de janeiro de 2016, se for preciso.
– É uma coisa pequena que estamos pedindo. Nesse tempo, podemos procurar um local para ficar. Não queremos confusão– finaliza.
Uma reunião no Palácio do Ministério Público nesta segunda-feira alinhou o trabalho dos órgãos municipais e estaduais para garantia da ordem durante manifestações que envolvam o trancamento das vias públicas com prejuízo à população.
De acordo com o procurador-geral de Justiça, Marcelo Dornelles, as instituições vão atuar unidas para garantir a desobstrução das vias.
– As pessoas que estão agindo assim (trancando as vias), não terão a guarida do Ministério Público estadual – afirma Dornelles.
O secretário estadual da Segurança Pública, Wantuir Jacini, explicou que, sempre que houver bloqueio de vias essenciais, as pessoas serão convidadas a se retirar do local e que o uso progressivo da força só será utilizado quando estritamente necessário.
– Há poucos dias, uma manifestação causou um congestionamento que se estendeu até a BR-116, em Canoas, e de outro lado, em direção à BR-290, em Eldorado do Sul. Causou grande transtorno, evidentemente que isso não pode mais acontecer – exemplifica o secretário, referindo-se a ação feita pelo mesmo grupo na segunda-feira da semana passada.
Na ocasião, o protesto paralisou Porto Alegre por quase quatro horas, quando cerca de 100 pessoas bloquearam as avenidas Mauá e Júlio de Castilhos. O objetivo da ação era conseguir apoio da prefeitura ao movimento. Segundo Girelli, a assessoria do vice-prefeito, Sebastião Mello, disse que a prefeitura "vai fazer o possível para ajudar as famílias".
O tenente-coronel Mário Ikeda, comandante do policiamento da Capital, garantiu a presença da Brigada Militar no local e de ações para desobstruir as vias.
– Temos condições de contornar essa situação com nosso efetivo.
Entenda o caso
Há um ano e quatro meses, mais de 300 famílias em busca de moradia decidiram aterrar uma área alagada no bairro Rubem Berta, na Zona Norte de Porto Alegre, e fixar residência no local. O grupo tenta negociar a compra dos terrenos com o proprietário da área desde o início da ocupação, mas afirmam que ele não mostrou interesse.
Uma ação de reintegração de posse foi aceita pela Justiça, e o cumprimento da medida deve ser feito nesta terça-feira. Para protestar contra a retirada das famílias do local, parte do grupo realizou uma manifestação no início da manhã de segunda-feira da semana passada. Cerca de 100 pessoas bloquearam as avenidas Mauá e Júlio de Castilhos, no centro da Capital, o que gerou congestionamento. O objetivo da ação era conseguir apoio da prefeitura ao movimento.
Inicialmente chamada de "Fazendinha", a ocupação fica na Estrada Antônio Severino. Atualmente, é chamada de "Bela Vista" e possui casas de madeira e alvenaria com acesso a água e energia elétrica.