Porto Alegre

Arte na calçada

Os sete pecados capitais de uma rua do bairro Rio Branco

Mosaicos dos desvios de conduta mais famosos do mundo são atração na frente da casa do seu Cláudio

Jéssica Rebeca Weber

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Se passar em frente ao número 238 da Rua Francisco Ferrer, não se esqueça de olhar para o chão. Por obra do bancário aposentado Cláudio de Oliveira Koehler, a calçada é decorada com sete mosaicos, que lembram os pecados mais famosos do mundo: gula, luxúria, avareza, ira, soberba, preguiça e inveja.

Seria uma crítica aos frequentadores do Rio Branco? Um alerta sobre a promiscuidade das ruas? Uma retaliação aos pecadores?

Não, o motivo é bem menos espiritual e complicado: havia acabado o espaço para obras na casa do seu Cláudio, de 85 anos, que não viu mal em embelezar o passeio público.

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A ideia veio de azulejos semelhantes que viu em uma calçada de Tramandaí - encomendou os seus para a artista Silvia Marcon. Ele até é católico, mas não quis que a ilustração dos pecados significasse alguma coisa. Apenas pensou que ficaria legal ter sete peças - e então, por serem sete, os pecados poderiam se encaixar bem:

- Ninguém dá mais bola para os sete pecados, mas todo mundo conhece.

A novidade atraiu a atenção dos moradores do bairro. Maria Helena Sarkis, 40 anos, coloca a rua no itinerário da caminhada para observar os mosaicos.

- Paro para olhar sempre. Adoro. Já tirei foto e tudo - diz a professora, que vota na ira e na gula para as peças mais bonitas.

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O arquiteto Clovis Borba, 59 anos, também aprovou. Ele destaca que as calçadas da cidade são todas iguais, sem diferenciação, e que quem passa acha as obras "curiosas". A aposentada Marina de Souza, 64, logo aponta o "seu pecado".

- O meu está ali. É a gula. Hoje ainda não cometi, mas hei de cometer - diz ela, direcionando para o mosaico respectivo.

 

Os sete pecados - e os seus "remédios"

Os pecados são desvios de conduta condenados pela Igreja Católica. O termo "capital" deriva do latim "caput", que significa cabeça. Então, de acordo com Cláudio Vicente Immig, professor de Teologia Moral na Pontifícia Universidade Católica (PUCRS), trata-se dos pecados que dão origem aos outros pecados.

- Quem tem ira, vai usar de violência, e então pode acabar matando alguém - exemplifica.

Immig diz que os pecados existem desde a criação do cristianismo, e chegaram a ser citados na Bíblia, especialmente nas Cartas de São Paulo. No século 6, o papa Gregório Magno também já se referia a eles, mas a lista só se tornou "oficial" na Igreja Católica no século 13, com a Suma Teológica de São Tomás de Aquino.

O professor lembra que para cada pecado também há um "remédio":

- Os pecados são contrapostos com virtudes, como humildade, disciplina, caridade, castidade, paciência, generosidade e temperança.

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