Não teve temporal que fizesse os voluntários desistir de entregar a moradores atingidos pelas cheias do Guaíba os 500 lanches que levaram a tarde toda preparando. Debaixo d'água, eles improvisaram uma proteção com lonas sobre um caminhão emprestado e partiram pelas ruas alagadas da região das ilhas, distribuindo sanduíches de queijo e presunto e cachorros-quentes com duas salsichas, batata palha, molho e "tudo o que tem direito".
- A gente faz como se fosse pra nós - diz Kátia Leal, 39 anos, sorrindo.
Foi na cozinha de Kátia que o grupo preparou os lanches nesta quarta - como também fizeram na terça, na segunda, no domingo, há sete dias. A doceira disse que "foi impossível" não se envolver. Ela cresceu em uma rua da Ilha da Pintada que está tomada por água e, atualmente, mora em uma das poucas vias da região que não foi atingida pela enchente.
- Quando eu era criança eu morava numa rua que, hoje, ninguém entra lá, está inundada. Hoje eu moro numa rua em que não entra água, então eu não consigo não ajudar. Eu fui muito ajudada, e agora é a minha vez - emociona-se.
Com sua experiência em cheias, decidiu que seria mais conveniente levar comida pronta para quem foi afetado, pois muitos não têm luz ou água potável para preparar uma refeição.
Contou com a ajuda de amigos da ilha e de um casal de missionários americanos e seus filhos, que não queriam ajudar menos que os adultos. Com apenas 11 anos, já era o terceiro dia que Anderson Blume estava auxiliando na preparação dos alimentos, além de buscar doações na escola que estuda, a Pastor Dohms. Na casa de Kátia, perguntou no que poderia ser útil e arregaçou as mangas para montar os cachorros-quentes. Ao longo da tarde, torceu o nariz apenas uma vez. Foi quando o pai disse que deveria acompanhar as entregas de dentro da cabine do caminhão, por causa da chuva forte.
- Mas eu quero ajudar as pessoas - argumentou, em inglês.
O menino diz que gosta de fazer parte dessa mobilização, mas que há um preço.
- Quando tu ajuda é bom, dá uma coisa no coração que é bom. Mas quando tu vê as pessoas sofrendo, não conseguindo sair das casas, é triste.
Também tem gente afetada pela enchente ajudando na preparação dos lanches. Por que a dona de casa Katia Araújo, 42 anos, deixou de barco a casa inundada para passar a tarde trabalhando em benefício dos outros?
- Por amor - diz ela. - Quando saí, tinha água na minha casa, mas graças a Deus eu tinha o que comer. Agora eu vim ajudar quem não tem - finalizou.
Um cachorro-quente com dose extra de carinho
Antes de carregar o caminhão com as caixas de isopor, os voluntários se deram as mãos e fizeram uma oração ao redor da mesa onde prepararam os lanches. Encarregada de deixar uma mensagem, a missionária Bernay Blume, 51 anos, pediu que os voluntários pudessem levar aos moradores um pouco do carinho de Deus.
- A gente pode pensar que isso não é muita coisa, que é só um cachorro-quente. Mas foi feito com muito amor, e estamos tentando passar amor através desse serviço - explicou Bernay.
Quando o caminhão buzinou na sua rua e foi até ele buscar uma sacola com lanches para toda a família, a dona de casa Silvia Letícia Moreira Sena, 36 anos, entendeu isso.
- Mostra o carinho e o interesse deles. Eles merecem muito o agradecimento da comunidade.
Como ajudar os voluntários
Cada lanche com suco ou café sai por R$ 2,50. Os voluntários aceitam ingredientes ou quantias em dinheiro - eles mandam por WhatsApp foto da nota fiscal da compra. Kátia também está coletando produtos de higiene e limpeza.
- A gente pede que o pessoal faça uma sacolinha, como se fosse limpar a sua casa, e ponha uma mensagenzinha dentro com uma palavra de esperança.
O telefone para contato é (51) 3203-1015 e o WhatsApp, (51) 9910-1680.