Devoto de São Francisco de Assis, o padre José Werle morreu aos 80 anos fazendo o que mais amava: celebrar missas. Pároco da Igreja Sagrado Coração de Jesus, no bairro Tristeza, em Porto Alegre, ele teria tido um infarto no altar, antes da última oração.
Mesmo com problemas cardíacos há anos, Werle nunca deixou de ser ativo. Celebrava todas as missas, casamentos e batizados na igreja em que era pároco desde a sua fundação, em 1982. Pelos fiéis, foi definido como um faz-tudo. Coordenava a catequese, cuidava do jardim do local e "pegava na massa" quando a igreja precisava de algum reparo na construção ou na rede elétrica. Também organizava rifas e jantares para arrecadar verba para pintura, reforma ou novos equipamentos, como os aparelhos de ar-condicionado recém-instalados na igreja.
Dos fiéis, cuidava como filhos. Tratava a todos com respeito e atenção, sempre querido e sorridente. Foi definido por eles como um homem simples, solidário e muito ativo. Dizia que queria chegar aos 80 anos e morrer celebrando, o que aconteceu. Inacabado, deixou apenas o centro comunitário da igreja - prédio de três andares que estava construindo nos fundos do local. Na construção, Werle queria fazer salas para a catequese e um salão de festas.
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Fotos: Diego Vara, Agência RBS
A última missa conduzida pelo padre iniciou às 20h de domingo, com a igreja lotada, já que a celebração também marcava o sétimo dia de falecimento de um fiel. Werle chegou a dizer duas vezes que estava "excepcionalmente feliz" por ver a casa cheia. Celebrou a missa sem dar sinais de estar fraco ou passando mal. Na hora do "Pai Nosso", escolheu cantar a oração, algo incomum para uma celebração de sétimo dia.
- Normalmente, cantamos o pai nosso em dias de alegria, e não de luto, como no domingo. Ele estava feliz por ver tanta gente - lembra Léo Voigt, 56 anos, 15 deles assistindo às missas na Sagrado Coração de Jesus.
Após a comunhão, Werle permaneceu alguns minutos em silêncio, sentado ao lado do altar, como habitual. Depois, levantou-se e disse:
- Rezemos mais um pouco.
Não conseguiu, entretanto, iniciar a última oração. Acabou caindo inconsciente no altar e foi socorrido por dois médicos que assistiam à celebração. Eles fizeram massagem cardíaca no padre até a chegada do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), que também não conseguiu reanimá-lo.
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Werle nasceu no interior de Picada Café e tinha 14 irmãos, alguns deles já falecidos. Foi seminarista em Gravataí, em 1946, e em Viamão, em 1956. Também foi vigário cooperador em Estrela e professor no seminário de Gravataí. Na Capital, foi vigário cooperador no bairro Tristeza em duas oportunidades: em 1966 e de 1971 a 1982, quando assumiu a Sagrado Coração de Jesus. Atualmente, morava com a secretária da paróquia, Maria Elena Camargo, 54 anos, na casa paroquial (construída ao lado da igreja).
- Ele já tinha tido um derrame cardíaco. Em julho, um cardiologista disse a ele que só estava vivo pela fé e pela vontade - conta Maria Elena.
O padre foi velado na tarde desta segunda-feira na Igreja Sagrado Coração de Jesus, sob as lágrimas dos fiéis. Depois, o corpo foi levado ao Crematório Metropolitano, onde foi realizada a oração de despedida.