"Tem um dragão na minha garagem". Imagina que alguém diga isso a você. Li a frase há muitos anos em um livro do Carl Sagan, O Mundo Assombrado pelos Demônios (Companhia das Letras, 1995). Ao ouvir isso, ele continua, você, que tem uma mente aberta, responde que quer ver o dragão, afinal, há tantos relatos - chineses, vikings, medievais - a respeito deles, quem sabe não tem algo aí. Mas ao chegar lá, a garagem está vazia, e o seu interlocutor fala "ah, esqueci de dizer que é um dragão invisível". Você propõe colocar farinha no chão para ver as pegadas, e ele responde que não vai funcionar, pois o dragão flutua. Não importa a solução que você proponha, jogar tinta spray no ar, por exemplo, sempre a pessoa sai com uma explicação, o dragão não tem corpo. Ele acredita no dragão, e pede que você acredite também, sem evidência ou testes. O que você faz? O capítulo do livro era sobre alienígenas, mas me lembrei disso na semana passada. Imagina que alguém diga: "Eu tenho um chá que cura bronquite". Ou "um tônico que rejuvenesce". Ou: "Uma pílula que cura câncer. Não está na farmácia, nenhuma companhia vende. Posso inclusive te dar de graça. Foi testada por mim e funciona, eu tomo e não me faz mal". O que você faz?
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Cristina Bonorino: dragões e tubarões
"A regulação de medicamentos, de seus testes e distribuição, é, sim, fundamental para que drogas sejam ministradas da forma mais segura para os pacientes que as necessitam"