Quem vê pela primeira vez o músico Sepé Tiaraju Teixeira, 57 anos, ao redor dos alunos, pode até temer a fisionomia séria do professor.
Mas basta ouvir os primeiros ensinamentos dele, sempre pontuados por brincadeiras com os estudantes, para compreender que a seriedade faz parte da concentração do funcionário público cedido pela prefeitura de Porto Alegre para atuar como regente da banda de Nova Santa Rita.
Exímio trompetista, apaixonado pelo instrumento que começou a tocar ainda na infância, Sepé foi além das funções de funcionário público. Junto com a auxiliar administrativa Edinara Rodrigues, 38 anos, abraçou um projeto social criado pela prefeitura para levar música à sala de aula.
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Há dois anos, Sepé trocou os ensaios na Capital pela casa amarela de cinco cômodos instalada no pátio de uma escola rural de Nova Santa Rita. Ali, todos os dias, 50 crianças e adolescentes aprendem gratuitamente com ele os segredos dos instrumentos musicais. No laboratório de música são dadas aulas de teoria, percepção, solfejo (ler ou cantar as notas musicais, sem pronunciar quaisquer palavras do canto) e prática.
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Discreto, o regente não comenta que também é o "faz-tudo" do laboratório. Quem revela é Edinara. Para tornar numa oficina musical a velha casa abandonada, o músico não mediu esforços.
Sozinho, pintou as paredes e fez toda a fiação elétrica. Hoje, ainda é o responsável por cortar o gramado que circunda o prédio. Garante que é uma forma de contribuir ainda mais para que o projeto dê certo.
Nas poucas horas livres, Sepé continua sendo professor do que mais gosta. É voluntário num projeto para crianças carentes em Canoas. Garante que ensinar foi a forma de levar adiante a paixão pela música.
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Transformação
"Assim como eles, também tive um professor que me ensinou que na música eu poderia trilhar o caminho do bem. Ele deu o pontapé inicial na minha vida musical, e eu arrisco a dizer que até na minha vida social. E a música me transformou interiormente, me fez querer buscar mais. Se quis estudar, aprender mais, foi pela vontade de me tornar melhor no que faço, como foi o meu professor. Com o tempo, precisei optar entre ser um músico instrumentista ou um mestre. Apesar de ser um apaixonado pelo trompete desde guri, foi necessário fazer uma escolha. Eu não conseguiria me dedicar ao instrumento como gostaria e precisaria. Faz parte da vida, e eu optei por seguir lecionando."
Contribuição para o futuro das crianças
"A música contribui para a socialização de qualquer ser humano. E eu vim pra Nova Santa Rita, em 2013, para desenvolver este projeto. Ele é dividido em três partes: biblioteca municipal de música, a banda e o laboratório, voltado para crianças a partir de dez anos. Tudo visou usarmos a música como agente transformador, como forma de interagir com as crianças. Nas escolas, os professores nos chegam falando que houve muita transformação nestes que participam do projeto. Eles melhoraram suas notas, pois exigimos que tenham um desempenho satisfatório na escola. Fico feliz porque estamos proporcionando um futuro diferenciado para estes brasileirinhos."
Muito mais do que um professor: um incentivador
Foto: Mateus Bruxel
Legado
"Entendo que, se aprendi algo, preciso passar à frente. Me sinto responsável por estar formando uma nova geração de músicos. Por isso, além de ser regente da banda, de ser professor no projeto social, também encontro um tempo para trabalhar como professor voluntário num projeto musical em Canoas. É uma forma de retribuir o que aprendi. A hora que eu sair deste planeta não quero levar meu conhecimento comigo. Quero passar ele adiante."
Aulas acontecem em escola rural de Nova Santa Rita
Foto: Mateus Bruxel
Confira no vídeo o trabalho de Sepé:
AS DICAS DE SEPÉ
- Estude e se prepare para passar o conhecimento adiante.
- Seja um apaixonado pelo que você faz.
- Deixe de criticar e comece a agir.
- Encare as dificuldades e siga em frente.