Na Avenida dos Cubanos, número 167, está instalada a Escola do Sol, lugar de propósito tão luminoso quanto seu nome. Criada para servir de lar a adultos especiais, a instituição está pronta para receber pessoas com síndrome de down, autismo e paralisia cerebral quando os principais cuidadores - os pais - não tiverem mais condições de auxiliar.
Inspirada na história do próprio filho, César, 62 anos, Ruth Pastori, de 82, decidiu abrir a escola nos anos 70. Inicialmente, ficava ao lado da sua casa, no bairro Petrópolis. Depois, com a realização de chás, rifas e desfiles no Clube Leopoldina Juvenil, conseguiu verba para comprar um terreno no Partenon. Com o passar dos anos, foi mobiliando as peças com ajuda de doações. Teve amigo que deu cheque em branco para a professora comprar fogão.
César foi o primeiro filho de Ruth. Ela percebeu que ele era diferente nos primeiros meses de vida, e então, começou a estudar a respeito. Em seguida, vieram outras duas filhas. Por acreditar que o "o sol nasce para todos", Ruth criou todas as condições para o filho ter uma vida boa. Quando as meninas saíram da faculdade - uma é médica, a outra advogada - a mãe ingressou: aos 50 anos, foi estudar pedagogia. Depois, fez pós-graduação e seguiu firme no objetivo. A fé nunca lhe deixou desistir.
Foto: Lara Ely/Agência RBS
Uns dizem que Ruth é uma professora teimosa. Ela é exigente e determinada a realizar o que se propõe. Na escola, na qual atende todas as tardes, ela ensina a ler, escrever, somar, diminuir. Mas é compreensiva quando os alunos estão sem vontade:
- Aqui é a casa deles. Se não querem trabalhar em cálculo, matemática, eles pintam, desenham - diz Ruth, viúva há dez anos.
A amiga de muitos anos Ana Maria Marques é voluntária e um dos xodós de César, o filho de Ruth. Ela brinca, conversa, ensina.
- É um exemplo vivo de que tem amor em cada cantinho da escola - diz Ruth sobre a amiga.
E tem mesmo: dos professores à faxineira, todos os funcionários são voluntários. Mãe de um filho especial, Ana diz que ali é o ambiente de convívio, onde eles socializam e têm uma vida própria. Ainda que privada de autonomia total, os alunos levam uma vida bastante iluminada. Dá para dizer que isso partiu do planejamento da criadora. No projeto arquitetônico, feito em 1999, ela previu que, além das salas de aula, refeitório e banheiros, haveria sala de computação, música, artes, capela, sala de reuniões, secretaria, dispensa, casa do caseiro e uma sala para alugar.
Tem também um elevador, que ela pagou parcelado. Haja dinheiro e espaço: o terreno tem 600 metros quadrados e, para conviver ali, cada aluno paga um valor mensal de R$ 500. A verba ela guarda para o próximo passo: a construção dos quartos, para receber hóspedes quando os pais vão viajar. Aí o sonho se completa.
Ao primar pela qualidade do atendimento, a escola tem como propósito atender poucos alunos: na tarde desta quarta, quando a reportagem visitou o espaço, estavam presentes Josilene dos Santos, Thiago Leal, César Pastori e Murilo Machado. Mas desde o início da instituição, cerca de 80 alunos já passaram por ali.
Na escola, onde futuramente eles poderão morar, ensina-se tudo: desde trabalho de jardinagem até secar louça, varrer, rezar. Ruth ouviu de seu cardiologista que é essa disposição que a mantém com corpo e mente ativos (ela ainda dirige e cozinha):
- O importante é auxiliá-los a eles a conviver conosco. Se rasgar uma revista, não fique brabo com eles. Cola com durex e pronto - diz, do auge de sua paciência.
Quando teve um filho especial, o único deficiente que a cruz-altense conhecia era o "chico mudo", personagem conhecido em sua cidade. Agora, Ruth está em busca de novos voluntários para dar continuidade ao trabalho que começou:
- Preciso de alguém que ame as crianças e as respeite da maneira como são.