Por trás da aparente fragilidade em 1,50m de altura, vive a fortaleza Maria José Matos da Silva, 69 anos, em Capão da Canoa, no Litoral Norte. Gigante e generoso, o coração quase não cabe na senhora de voz doce e abraço jamais negado a alguém. Há 18 anos, Dona Zezé, como é conhecida, criou o Forno Comunitário Madre Assunta, no Bairro Santa Luzia, e sova o alimento que sustenta famílias carentes de três vilas de Capão e de Xangri-lá.
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Nas terças-feiras, são produzidos centenas de pães com a ajuda das "valentes", como ela identifica as mulheres que a auxiliam na tarefa. Em dois fornos de barro, o grupo assa a massa produzida a partir das doações de farinha e de outros ingredientes. Mas da casa transformada em obra social também saem cestas básicas, roupas, calçados e móveis vindos de doações. Zezé vive para alimentar a vida dos outros.
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O início
"Um dia, cheguei na escola com a minha filha e vi dois meninos. Um deles tinha um pacote de bolacha nas mãos. O outro, só olhava muito. Aí, cheguei e perguntei porque ele olhava tanto. E ele disse: 'porque estou com fome, minha mãe não tinha nada para eu comer'. Fiquei tão atordoada com a resposta dele, que nem consegui perguntar o nome da criança. Na hora, pensei 'vou ter que fazer um forno comunitário'. Pedi ajuda numa rádio local e, em 60 dias, estávamos inaugurando o forno de barro."
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As dificuldades
"Começamos com dez famílias. As mães vinham, faziam os seus pães e levavam para casa. Quando faltava um azeite ou um fermento, eu fazia uma faxina para comprar e ter quando elas chegassem. Fiz muito fiado nos mercados. Às vezes, eram nove horas, dez horas da noite, e nós estávamos tirando a última fornada. E as mães e as crianças estavam ali sentadas, esperando o pão para levar para casa. Era o único alimento que elas tinham naquele dia."
Compromisso
"A terça-feira e a quarta-feira são sagradas. Não adianta vir aqui e dizer para a Zezé: 'vamos dar uma volta?' Não posso. Eu tenho compromisso com as crianças, tenho compromisso com os idosos, tenho que fazer o pão para eles. Trabalhamos da primeira semana de março até a segunda semana de dezembro, quando a maior parte das mães consegue emprego no Verão. Sempre das 7h30min até às oito da noite. Há 17 anos, temos a ajuda do Lions Club de Capão da Canoa. Mas dependemos muito das doações de todos."
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Auxílio
"Por semana, usamos 130kl de farinha para fazermos 800 pães, e cada família leva seis para casa. Estamos sempre precisando de doações. São 130 famílias ajudadas nas vilas Arco-Íris, Praia do Barco, sede do forno, em Capão, e, também, a Figueirinha, em Xangri-lá. Eu sempre imagino o amanhã, quando eles pegarem este pão para o café e ficarem bem alimentados para a escola."
Conselho
"Se você quer fazer e tem vontade, você corre e vence. Mas não é difícil. Tem que ter muita vontade, muita garra, muito amor. O melhor tempero deste pão é o amor. Se você não depositar todo o seu amor ali, não sai pão. Ele não cresce. Ele vai para o forno e não sai assado. Sai cru."
Os conselhos da Dona Zezé
* Fazer o bem sem olhar a quem.
* Se você recebe o mal, pague com o bem.
* Se você receber uma pedra, guarde-a. Um dia, esta pedra lhe servirá para trancar uma porta. Jamais devolva a pedra.
* Não tenha pressa, tenha paciência.
* Se você não tem paciência, logo ali na frente você pode tropeçar e cair num buraco.
Para ajudar
* O Forno Comunitário Madre Assunta aceita doações de farinha de trigo, açúcar, fermento para pão, feijão, arroz, outros alimentos da cesta básica, roupas e calçados.
* O endereço é Rua Getúlio Vargas, 364, Bairro Santa Luzia, Capão da Canoa
* Telefone: (51) 3625-5138
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Caminho do Bem
Pães produzidos por Dona Zezé ajudam a alimentar 130 famílias do Litoral Norte
Forno Comunitário Madre Assunta, criado por Zezé em Capão da Canoa, completou 18 anos e segue como exemplo de projeto social na região
Mateus Bruxel
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