A segunda paralisação da polícia em um mês trouxe ainda mais desconforto para donos de mercadinhos e armazéns de bairros em Porto Alegre. Tomados pela sensação rotineira de insegurança, eles se sentem ainda mais desconfortáveis quando as viaturas desaparecem das ruas. Nesta terça-feira, a situação levou à mudança de rotina em boa parte dos estabelecimentos: uns contrataram segurança particular, outros fizeram vigília da rua e teve até quem decidiu trabalhar atrás de grades.
Em ronda por bairros da zona sul e zona norte, a reportagem constatou que o desconforto dos comerciantes é grande, independente da greve. Em especial nos bairros Glória, Medianeira e Teresópolis, as medidas tomadas foram mais rigorosas.
Nem todos os proprietários dos sete estabelecimentos visitados acreditam que a ausência da polícia tenha mudado a situação. Já acostumados com o descaso das autoridades, parte deles tomou providências desde a ultima paralisação, quando pelo menos três dos visitados foram assaltados.
Quem acaba pagando o preço da violência é o consumidor. É o que explica o dono de um mercado na Glória:
- Depois de ter sido cinco vezes assaltado no mesmo mês, colocamos segurança privada. O valor, claro, acaba embutido no produto - explica José Maccari.
Assaltados na última paralisação da BM, os donos do mercado Perin, no bairro Teresópolis, decidiram se revezar na vistoria em frente ao estabelecimento, para monitorar a ação de possíveis ladrões. Uma das proprietárias, a comerciante Angelina Reginatto Perin, diz que se sentiu constrangida, ainda mais "sabendo tudo que paga de imposto".
- Claro que a ausência da polícia aumenta a nossa insegurança. A gente fica com sensação de mais medo. A gente é assaltado a cada dois meses. Às vezes, a Brigada vem, outras não ou demora. Mas fica aquele sentimento de que só piora, não melhora.
Marcelo Romano, dono de uma pet shop no Medianeira, acha que a situação fica "um pouco pior" sem a polícia, mas não abre mão de deixar as portas da loja abertas, porque, em uma tentativa de espantar ladrão, não quer afugentar a clientela:
- A sensação é um pouco pior do que o normal, a gente nunca tem a presença da Brigada. A diferença é que, hoje, eles (os assaltantes) sabem que o caminho está livre.