Fora do ar há cerca de quinze dias, os relógios digitais da cidade de Porto Alegre provavelmente não voltarão ao funcionamento tão cedo. Com a previsão de lançar nova licitação para mobiliário urbano nos próximos 60 dias, a prefeitura deixou terminar o contrato com a empresa Ativa sem planejar a fase de transição.
Agora, quem está acostumado a olhar pela janela do carro ou ônibus para saber as horas e a temperatura vai ter que esperar - ou recorrer a outros meios.
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Segundo a administração municipal, os equipamentos eram utilizados de maneira irregular por empresas privadas. Um imbróglio judicial que se arrastava por quase duas décadas permitia que elas cobrassem pela publicidade no relógios sem contrapartidas financeiras para a prefeitura. A única obrigação era a manutenção do aparato.
- Não era por contrato vigente, mas por litígio judicial que essas empresas atuavam. No ano passado, esses processos judiciais terminaram e a prefeitura poderá finalmente se apropriar dos relógios - explica o coordenador do Grupo de Trabalho do Mobiliário Urbano, Arnaldo Guimarães.
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Se tudo der certo, Guimarães projeta que o retorno dos relógios deve ocorrer apenas em março - mas eles virão repaginados. Após a audiência pública que ocorre no dia 11 para esclarecer assuntos do mobiliário urbano, o edital será lançado em setembro e, até novembro, uma nova empresa será selecionada para gerenciar relógios, placas e paradas de ônibus. A partir daí, o prazo é de 90 dias para a instalação.
A prefeitura quer substituir os atuais marcadores por outros mais modernos, como os de Barcelona, que possuem telões contendo notícias sobre trânsito ou atividades de lazer além de paradas de ônibus com Wi-Fi.
- Vamos dar um salto para a modernidade de Porto Alegre sem gastar nada - aposta Guimarães.
Diretor-presidente da Ativa, Dannie Dubbin explica que o desligamento dos relógios, ocorrido desde que a prefeitura substituiu os anúncios publicitários por propagandas institucionais, causou estranhamento à população. Nas últimas semanas, a empresa teria recebido de 20 a 30 ligações por dia questionando sobre o apagão das horas nas ruas da cidade.
Ao percorrer bairros como o Menino Deus, Jardim Botânico, Medianeira, Centro e Santa Cecília, Zero Hora conversou com pedestres sobre o tema. Entre dez abordados, apenas um manifestou indiferença em relação ao horário do relógio.
- Nem reparei, não faz muita falta, eu vejo no relógio de pulso - disse a servidora pública Rosana Vargas da Silva.
Veja no vídeo depoimentos sobre a ausência dos relógios de rua
Os 18 funcionários que mantinham a rotina de manutenção em seis caminhonetes circulando pela cidade foram realocados em outros serviços (a empresa tem relógios em outras cidades do Estado). Segundo o empresário, a prefeitura não tinha custos com a Ativa e cobrava cerca de R$ 1,5 mil por mês com cada anúncio.
- Não é um serviço essencial, mas as pessoas têm um carinho especial por eles, estão acostumadas, sentem falta O segredo era manter funcionando. Quando algum estragava, logo nosso telefone tocava - diz o empresário, que participará da concorrência.
No novo modelo, o tempo de exploração será de 20 anos, só que dessa vez, a contrapartida será a instalação e manutenção de placas de rua e abrigos de ônibus. A prefeitura também pretende ampliar de 50 para 100 o número de relógios.