Os anúncios de toque de recolher, que assombraram as ruas dos bairros Rubem Berta e Mario Quintana no final do ano passado, voltaram a fazer parte da rotina dos moradores da Cohab Rubem Berta desde o final de semana passado. O estopim teria sido as mortes de Luís Antônio Oliveira dos Santos, 48 anos, e Alexandre da Silva Alves, 39 anos, na manhã da quinta-feira passada.
Moradores relatam que, a partir das 19h30min, permanecer na rua é um risco.
- Está muito complicado para todos nós. São homens com armas grandes circulando entre os blocos. Eu volto do trabalho à noite, sem saber se vou chegar - desabafa um morador, que pediu para não ser identificado.
Segundo testemunhas, no sábado, um tiroteio impediu a circulação de moradores pela região. Depois, os boatos multiplicaram o medo.
- Diziam que iriam invadir as casas de todo mundo para tomar conta daqui - conta uma moradora.
A Cohab Rubem Berta é um dos palcos da guerra envolvendo traficantes do Loteamento Timbaúva e da Vila Safira, ambas no Bairro Mario Quintana. Segundo a polícia, a região teria pontos de tráfico dominados pelo bando que atua na Safira.
- O confronto é o mesmo do ano passado, mas demonstra uma velocidade impressionante dessa quadrilha do Timbaúva em arregimentar novos soldados. A maioria dos envolvidos nos crimes do ano passado estão presos. Agora tentamos identificar quem está agindo - afirma a delegada da 5ª DHPP, Jeiselaure Souza, que investiga os homicídios na região.
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No crime da manhã de quinta passada, que aconteceu junto ao campinho no coração da Cohab, a Brigada Militar agiu rápido e conseguiu prender os suspeitos quando fugiam, no Loteamento Timbaúva. Dois foram autuados em flagrante e um adolescente apreendido. Segundo a delegada, os dois homens vitimados eram usuários de drogas e estariam traficando na Cohab.
Escola nega toque de recolher
Na tarde de terça-feira, boa parte dos alunos da Escola Municipal Grande Oriente, que fica junto à Cohab, saiu mais cedo da aula. Na região, espalhou-se a informação de que estariam seguindo um toque de recolher.
- Nós funcionamos normalmente nos últimos dias. Até o horário final. Dentro da escola este assunto nem chegou - garante o vice-diretor da escola, Geraldo Vargas Afonso.
O comandante do 20º BPM, major Arnaldo Hoffmann Neto, também garante que não tem informação de qualquer toque de recolher, mas admite que o clima é tenso na região.
- Não podemos negar que a situação está violenta. Estamos diante de quadrilhas de traficantes disputando um território. Sem dúvida, tiroteios podem acontecer. Nós aconselhamos os moradores a tomarem cuidado - diz.
Ele garante que desde o sábado o policiamento está reforçado na região.
Silêncio emperra investigações
O maior inimigo das investigações sobre homicídios e tiroteios na região, de acordo com a polícia, é o silêncio. Mesmo que o clima tenso, a circulação de homens armados ou um suposto toque de recolher seja assunto corrente entre os moradores, a delegada Jeiselaure assegura que, desde sexta-feira, nenhuma ligação foi feita à polícia com denúncias.
- Nós precisamos que as pessoas denunciem e identifiquem quem são os criminosos. O anonimato é garantido, mas precisamos de informações. O silêncio acaba deixando a investigação de mãos atadas - diz a delegada.
Denúncias podem ser feitas pelo 190 ou 181.
A guerra do tráfico
*Entre outubro e novembro do ano passado, 13 pessoas foram mortas na região.
*Eram crimes decorrentes do confronto entre quadrilhas de traficantes do Loteamento Timbaúva e da Vila Safira, no Bairro Mario Quintana.
*Entre os tiroteios, diversas vezes os moradores foram submetidos a toques de recolher impostos pelos criminosos.