Rita (de blusa xadrez) mudou-se para a ocupação com os filhos porque não estava conseguindo pagar o aluguel
Foto: Tadeu Vilani/Agência RBS
Promulgada há menos de duas semanas, a lei que declarou 14 ocupações em Porto Alegre como Áreas Especiais de Interesse Social (Aeis) evitou que cerca de 100 famílias - metade delas de haitianos - fossem despejadas de um terreno onde modestas casas começaram a ser erguidas há nove meses, no bairro Sarandi.
A reintegração de posse, que estava marcada para ontem, foi suspensa pelo Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul na última sexta-feira. O desembargador Nelson José Gonzaga, da 18ª Câmara Civil, levou em conta o fato de a ocupação Progresso estar entre as 14 áreas na Capital que, a partir da nova legislação, só poderão ser destinadas à habitação popular.
- Foi uma vitória. A Aeis é uma lei que dá o amparo para as comunidades e para o povo que não tem condições de moradia, que depende de aluguel. Tanto para os brasileiros como para os haitianos, o custo de vida é muito alto, e o déficit de habitação é muito grande - afirmou a líder comunitária Ilisiane Vida, que precisou imprimir e apresentar documento com a decisão do desembargador para fazer com que as máquinas recuassem, ontem.
Entre os moradores, a sensação, por um lado, era a de alívio. Afinal, a garantia de permanência dada pela Justiça era uma preocupação a menos para pessoas cujas vidas são marcadas por uma série de privações. Aos 33 anos e mãe de sete filhos, a auxiliar de limpeza Rita de Cássia Garcia da Silva mudou-se para a ocupação Progresso porque, sozinha e ganhando apenas um salário mínimo, não estava mais conseguindo sustentar a prole e pagar os R$ 350 de aluguel por um imóvel na Vila São Borja. Na pequena casa de madeira de um cômodo, também moram um genro e um neto de Rita, que é analfabeta.
Já as primas haitianas Odette Decamps, 47 anos, e Elisa Derisma, 41, acabaram indo parar na ocupação devido à dificuldade de conseguir alugar um imóvel. Com status de refugiadas, elas vieram da Venezuela e estão no Brasil há 10 meses no Brasil, sendo seis deles na ocupação. Antes de desembarcar em Porto Alegre, estiveram em Manaus. Odette trabalha em um posto de gasolina e Elisa deixou o emprego de auxiliar de limpeza há um mês, quando terminou a licença maternidade, porque não tinha com quem deixar a filha Isabelle,
- A vida era muito difícil no Haiti. Fui para a Venezuela e, quando cheguei lá, vi que era quase igual. Aqui, a vida é melhor. Quero poder dar uma educação melhor para a minha filha - conta Elisa, que deu à luz na capital gaúcha a Isabelle.
* Zero Hora