Faixas expostas em praças e canteiros públicos, condomínios e janelas do Jardim Ypu, na zona leste da Capital, fazem um alerta que divide os moradores: "Cuidado. Bairro com alto risco de Assalto. Fique atento ao andar pela rua".
O texto, assinado por um grupo identificado como Movimento dos Moradores, clama por mais segurança no local. De outra parte, na comunidade, há quem reclame, alegando que o alerta não afasta o risco e, ainda por cima, desvaloriza os imóveis.
Pelas ruas do Jardim Ypu, na manhã de ontem, havia pelo menos cinco faixas: no canteiro central da Avenida Germano Schmarczek, na cancha de esportes da Praça Germinal Michele, nas cercas de dois condomínios e na janela de uma residência. O movimento é apoiado por uma moradora que pediu para não ser identificada, cujos familiares sentiram na pele os problemas da falta de segurança.
- O bairro é muito bom de morar. Eu e minha família estamos aqui há 32 anos, meus filhos nasceram e cresceram por aqui. Só que, infelizmente, jovens daqui mesmo foram para o lado ruim, se envolveram com drogas e então buscam recursos através de roubo para suprir o vício - afirma.
Ela conta que a família sofreu dois assaltos em um intervalo de poucos dias, no bairro, no mês passado. No primeiro, ladrões armados que chegaram em um carro importado calçaram a moradora e o marido, obrigando-os a entregar a EcoSport em que estavam. Dias depois, a caminhonete foi recuperada.
Há dois domingos, porém, ladrões entraram no pátio da casa da família e, por pouco, uma tragédia não foi consumada.
- Acho que a arma de um deles não funcionou ou não tinha balas, porque ele tentou atirar na minha filha. Ela acabou levando uma coronhada na cabeça, e o meu marido, na boca. Fugiram levando a EcoSport - contou, acrescentando que a caminhonete ainda não foi encontrada.
Outro morador, que também pediu para não ser identificado, conta que houve várias invasões de apartamentos por ladrões, o que obrigou proprietários a recorrer a grades e a cercas de arame farpado.
- Nós estamos aqui entregues às traças. Não temos policiamento suficiente. Está muito complicado.
Ambos os moradores que falaram com a reportagem disseram que, entre os assaltantes mais frequentes, há um casal que age com o uso de uma moto.
Mas nem todos concordam com o uso das faixas pelo movimento. Para a autônoma Vera Nunes, 51 anos, a criminalidade no bairro não é diferente da que vem assustando outros bairros.
- Sou contrária. Isso está sujando a imagem do bairro, e o que está acontecendo aqui já ocorre há bastante tempo em lugares como o Menino Deus e a Cidade Baixa - alega.
A afirmação de Vera é reforçada por uma faixa colocada em um poste da Rua Lima e Silva, na Cidade Baixa, que faz um alerta semelhante: "Fique atento. Assaltos na Cidade Baixa. Assaltos com faca todos os dias. Manhã entre 7h e 7h30min, tarde entre as 15h e as 16h. Marginal está surpreendendo pessoas na rua, próximo a lixeiras. Fique atento".
O major Arnaldo Hoffmann, que responde pelo comando do 20º BPM, com atuação no bairro Jardim Ypu, afirma que o batalhão tem recebido mais queixas do que o normal, nos últimos dias.
- No bairro, costumávamos ter um roubo de veículo por mês. No mês passado, ocorreram quatro. Houve prisões, mas entendemos a preocupação dos moradores e, mesmo sabendo que há bairros com índices de violência bem maiores, estamos reforçando o policiamento e procurando dar uma resposta maior - disse.
Na Polícia Civil, o titular da Delegacia de Polícia Regional de Porto Alegre (DPRPA), delegado Cléber Ferreira, concorda com o movimento dos moradores.
- É uma maneira de protestar e fazer com que os órgãos de segurança pública ajam de forma mais efetiva na região. Nós orientamos os delegados das DPs da região no sentido de descobrir o autor ou os autores dos assaltos e tirá-los de circulação.