Símbolo militar que celebra a participação brasileira na II Guerra Mundial, o Monumento ao Expedicionário voltou a se transformar em tela para um protesto político-social entre a noite de segunda-feira e a manhã desta terça-feira. O grupo de esquerda Unidade Vermelha - Organização Revolucionária Nacional Libertadora (UV-ORNL) deixou duas mensagens com tinta preta no arco, que fica no Parque Farroupilha (Redenção), em Porto Alegre: "Liberdade a Igor Mendes! UV-ORNL" e "Lutar não é crime!"
Em janeiro, o monumento já havia sido alvo de protesto, na ocasião, feito pelo grupo Galera do Pixo do Triangulo CAV do Terror. Em texto na internet, o coletivo de pichadores criticou o Exército, apontando que "gostam de lembrar da guerra como cheia de glória, porque é uma desculpa pra alistar um monte de pobre e mandar pra fora pra morrer e matar gente pobre".
Igor Mendes da Silva é estudante de Geografia da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) e ativista do Movimento Estudantil Popular Revolucionário (MEPR) e da Frente Independente Popular do Rio de Janeiro (FIP-RJ). Ele está preso no Complexo Penitenciário de Bangu desde 3 de dezembro de 2014, acusado, ao lado de Elisa Quadros Pinto, a Sininho, e de outros 20 ativistas, de formação de quadrilha armada para agir em protestos e planejar atos violentos durante a Copa do Mundo de 2014.
Uma simpatizante do protesto feito pela UV-ORNL fotografava a pichação à tarde na Redenção. Ela afirmou que não falaria com Zero Hora porque o jornal, na sua opinião, é um braço da RBS, responsável por manipular a informação. Também minimizou a importância do monumento e questionou a prisão do ativista. Criticou ainda a ideia de cercamento do parque, que já considera elitizado - a medida serviria para impedir a entrada de quem mora nas áreas mais periféricas da cidade, segundo ela.
Usuários divergem sobre cercamento
Para Lizete Lopes, 58 anos, zeladora há um ano de um prédio que fica na Rua José Bonifácio, gradear o parque o tornará mais perigoso porque, em caso de ação de assaltantes na região, criará um brete que impedirá qualquer tentativa de fuga da vítima.
- E para abrir? Vai ter que ir alguém com a chave? Se fecharem, não vou nem mais correr na Redenção - argumentou.
Opinião inversa tem o casal formado pela enfermeira Maura Miranda, 37 anos, e pelo arquiteto Luís Márcio Grandi, 36 anos. Eles defendem o cercamento para acabar com o vandalismo, a criminalidade e a violência no local.
- Vários parques são cercados no mundo. Isso resolveria as pichações - opinou Maura.
Um projeto sobre um plebiscito para decidir pelo cercamento ou não da Redenção poderá ser votado na quarta-feira na Câmara Municipal.
Coronel lamenta nova pichação do monumento
A arquiteta Verônica di Benedetti, restauradora de obras do parque pelo projeto do Sindicato das Indústrias da Construção Civil no Estado do Rio Grande do Sul (Sinduscon) para revitalizar os monumentos, disse que uma possível nova limpeza do Expedicionário ainda deverá ser discutida. Em janeiro, na época da primeira pichação depois da limpeza do monumento, o presidente do Sinduscon, Ricardo Sessegolo, declarara:
- A gente não vai desistir, vamos recuperar tantas vezes forem necessárias. Alguém vai acabar cansando. E não seremos nós.
O coronel Leonardo Araújo, chefe da Comunicação do Colégio Militar, que fica em frente ao parque, lamentou a pichação. Ele afirmou que o monumento tem um grande significado não somente para o Exército, e sim, e ainda maior, para o povo brasileiro. Sobre uma possível vigilância sobre o Expedicionário, Araújo observou que não tem efetivo para isso.
- Não foi o Exército que colocou o monumento lá. Foi a municipalidade de Porto Alegre - salientou.