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Em meio a calçados, restos de sofás e camas jogados na água pela população, sujeira e mau cheiro, ainda é possível encontrar vida no Largo dos Açorianos, no Centro de Porto Alegre.
Nessa quinta-feira, em uma limpeza feita pelo Departamento Municipal de Limpeza Urbana, trabalhadores ficaram surpresos ao encontrarem peixes de grande porte no local - um deles pesava mais de 20 kg. Eles estão sendo retirados e transportados para locais que apresentem melhores condições.
Foto: Mateus Bruxel, Agência RBS
Trata-se de uma carpa capim. De acordo com o professor da Faculdade de Biociências da PUCRS Nelson Ferreira Fontoura, especialista em Ecologia de Peixes, o exemplar da foto é exótico e pode ter sido largado no lago por alguém que os pescou em outra área - possivelmente, na Bacia do Guaíba. Peixes típicos do local seriam traíras ou cascudos.
- Largar espécies exóticas em lugares aleatórios é uma ameaça à biodiversidade, porque compete por alimento e pode ser predador das espécies menores - explica o professor.
Segundo ele, embora o Largo dos Açorianos tenha sido, no passado, parte do curso do Arroio Dilúvio antes de sua retificação, atualmente não há qualquer ligação entre o lago e outro curso d´água.
Coordenadora da Equipe Fauna Silvestre da Secretaria Municipal de Meio Ambiente, Soraya Ribeiro desconhece a presença de carpas no lago e afirma que recente vistoria no local identificou a presença de peixes pequenos, como filhotes de lambari.
- Não acredito que seja dali. Um peixe desse tamanho teria que ter uma lâmina d´água maior para sobreviver. Ali está quase seco - explica Soraya.
Segundo descrição do Sargento Rosa, carpa pesa 20kg e mede quase um metro
Foto: JULIANO SILVEIRA DA ROSA / ARQUIVO PESSOAL
Os trabalhos de revitalização do Largo dos Açorianos iniciaram no fim do mês passado pelo DMLU e pela SMAM, com apoio da Brigada Militar. Está sendo feita a secagem do lago para a realização da limpeza e retirada de lodo, além da reconstrução de partes do muro em seu entorno. Na manhã desta quinta-feira, enquanto participava da ação de remoção de moradores de rua, o Sargento Juliano Silveira da Rosa, do 9º Batalhão de Polícia Militar, testemunhou a presença do "peixão". Ele garante que o fato não é "história de pescador":
- Tiramos ele vivo. Faz anos que ele devia estar ali, para estar daquele tamanho. Incrível como no meio de tanto lixo existe vida. Tem mais um monte de peixes pequenos - afirma o militar.
Rosa conta que, por orientação da Smam, os peixes menores foram transferidos para o Lago da Redenção, e os maiores, para o Lago do Parque Marinha.