Motoristas e cobradores da Carris se tornaram o maior para-choque da crise da companhia, que tem quase 20% da frota encalhada na garagem por falta de peças e manutenção.
Na quarta-feira, dia em que o Diário Gaúcho denunciou o sucateamento da frota, 81 ônibus não saíram do pátio da empresa, no Bairro Partenon, em Porto Alegre.
Com cerca de 250 horários que não são cumpridos diariamente, a tripulação virou o primeiro alvo de desaforos e agressões verbais de usuários.
Na tarde de ontem, a comissão de funcionários se reuniu na sede social da empresa para discutir providências. O grupo definiu que pedirá a Carris que lance um comunicado explicando os motivos da falta de horários e pedindo que os passageiros não ataquem verbalmente a tripulação.
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Abraço na Carris
Os funcionários planejam dar um "abraço" simbólico na sede da Carris no final da madrugada de hoje, por volta das 4h30, para se posicionar contra o sucateamento da frota.
- Somos trabalhadores doentes. Motorista é pago para dirigir e cobrador para cobrar, não para ouvir desaforo e reclamação - defende o delegado sindical da Carris, Luís Afonso Martins.
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Um motorista entrevistado pelo DG ontem, que prefere não se identificar, começou a fazer tratamento psicológico nesta semana após um ano de tensões em frente ao volante.
- Já sofri ameaças, o passageiro acha que tu é o culpado. Vou trabalhar sob pressão, falta carros, falta horários, é horrível. Quando chego na metade do caminho, meu ônibus já está cheio, não sei se paro na parada para tentar pegar mais gente ou se toco direto. O estopim ocorreu no domingo passado quando ele foi agredido após discutir com um passageiro no Terminal Triângulo, na Zona Norte.
O homem procurava pertences que havia perdido em um ônibus. Sem ter como ajudá-lo, levou um soco no nariz em frente a fila de passageiros que embarcava no T1, às 13 horas.
Uma outra dupla de cobrador e motorista assumiu o ônibus enquanto ele foi encaminhado para o Hospital Cristo Redentor. Por determinação médica, ficará um mês afastado da Carris.
- Acordo no meio da noite e fico lembrando da cena, estou bem perturbado, traumatizado. A minha volta não será fácil, essa foi a gota d'água de um esgotamento que já venho tendo há cerca de um ano - relata.
"Estou ficando doente, to cansada de ouvir desaforo"
Oito ano depois de "inaugurar" a linha do T11 - que vai do Bairro Serraria até o Aeroporto -, Roseangela Fachinelli, 52 anos, pediu deixar de ser cobradora dos ônibus que fazem o trajeto.
- Estou ficando doente, to cansada de ouvir desaforo, de me chamarem de vagabunda, dizendo que estou bem sentada sem fazer nada, é horrível - diz ela, funcionária há 15 anos.
Depois da falta de cinco horários do T11 no começo da manhã de ontem, outra cobradora quase foi agredida por uma passageira que não entendia o motivo do "atraso".
- Só não apanhei porque o motorista falou em voz alta com a mulher, pedindo para ela parar. Nós estamos em situação de risco dentro dos ônibus, uma hora vai acontecer algo mais grave - prevê.
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