Depois de se juntarem para buscar a cassação do senador Sergio Moro (União-PR), o PT, do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e o PL, do ex-presidente Jair Bolsonaro, agora se preparam para uma eventual briga pela cadeira do senador. O Tribunal Regional Eleitoral do Paraná (TRE-PR) começa a julgar nesta segunda-feira (1º) as ações patrocinadas pelos dois partidos contra a chapa do ex-juiz da Operação Lava-Jato.
Seja qual for o resultado do julgamento no TRE, a palavra final deverá ser do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Caso a Justiça Eleitoral decida pela cassação de Moro, uma eleição suplementar deve ser marcada para escolha de um novo senador do Paraná, que vai ocupar o cargo até 2030.
No PT paranaense já existe uma disputa interna sobre quem será o candidato da sigla. Despontam a deputada Gleisi Hoffmann, presidente do partido, e o deputado Zeca Dirceu, filho do ex-ministro José Dirceu. A indefinição trava a decisão do PT sobre lançar candidatura própria à prefeitura de Curitiba ou fechar aliança com o PSB.
Zeca quer concorrer à prefeitura, mas o grupo de Gleisi defende o apoio ao deputado Luciano Ducci (PSB). Em troca, Ducci avalizaria uma candidatura de Gleisi à cadeira de Sergio Moro, também almejada por Zeca Dirceu.
Ex-governador do Paraná, Roberto Requião se desfiliou do PT na semana passada e, agora, aparece como outro possível candidato à vaga de Moro no Senado. Para concorrer, cogita-se a filiação dele ao PRD, recém-criado a partir da fusão de PTB e Patriota. Em suas redes sociais, o ex-governador criticou uma eventual aliança entre PT e Ducci e disse que se sentiu abandonado pelo partido.
O PL de Bolsonaro também tem mais de uma opção sendo ventilada. A mais natural é o ex-deputado Paulo Martins. Ele ficou em segundo lugar na disputa de 2022 com 29,1% dos votos, ante 33,5% de Moro. Ele já confirmou que tentará novamente o cargo, caso confirmada a queda do ex-juiz.
O partido tem ainda uma alternativa não testada nas urnas, mas com potencial para dar um aspecto nacional à disputa regional. Presidente do PL Mulher, a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro é ventilada por alguns setores da sigla.
Em dezembro, ela participou de ato político em Curitiba e foi recebida com um coro de "senadora" por apoiadoras. Para poder ser candidata no Paraná, a mulher de Jair Bolsonaro precisaria comprovar domicílio eleitoral no Estado seis meses antes da eleição. Hoje, ela reside no Distrito Federal.
Além desses nomes, a deputada Rosângela Moro (União Brasil) pode tentar ficar com a vaga do marido. Eleita por São Paulo em 2022 com 217 mil votos, ela transferiu o título de eleitor de volta para o Paraná. O movimento foi interpretado como possível desejo do casal em manter a cadeira no Senado.
Com a transferência, Rosângela passa a ser uma alternativa concreta para concorrer à cadeira de Moro, caso ele seja cassado pela Justiça Eleitoral. No entanto, o PT já entrou com uma ação para impedir mudança de domicílio eleitoral da deputada. Especialistas, no entanto, avaliam que a legislação não impede mudança.
O ex-líder do governo Bolsonaro na Câmara Ricardo Barros (PP) e o deputado Sergio Souza (MDB) já afirmaram que vão concorrer a uma eventual vaga no Senado pelo Paraná. Enquanto Souza busca se vender como o "candidato do agro", Barros tenta atrair o eleitorado bolsonarista, o que será difícil visto que a disputa deve contar com candidatura do PL.
Entenda a ação contra Moro
O julgamento na Justiça Eleitoral que pode levar à cassação do mandato de Moro é um desdobramento de ações do PL e da Federação Brasil da Esperança, composta por PT, PCdoB e PV. Os partidos acusam o ex-juiz de abuso de poder econômico por conta de gastos pré-eleitorais de Moro entre 2021 e 2022, período em que ele se apresentava como pré-candidato à Presidência da República pelo Podemos.
A candidatura ao Palácio do Planalto não prosperou e, em março de 2022, Moro migrou para o União Brasil e tentou concorrer a deputado federal por São Paulo. A troca de domicílio eleitoral, de Curitiba para a capital paulista, foi barrada pela Justiça Eleitoral e ele acabou se lançando candidato a senador pelo Paraná, sendo eleito com mais de 1,9 milhão de votos.
As ações apontam que os gastos e a estrutura da pré-campanha à Presidência foram "desproporcionais" e acabaram rendendo ao ex-juiz uma vantagem decisiva sobre qualquer outro candidato ao Senado no Paraná. Além disso, a soma dos gastos das pré-campanhas com a despesa que teve com candidatura a senador ultrapassariam o teto estipulado.
A defesa do senador considera que a arrecadação de recursos e as despesas na pré-campanha não precisam ser submetidas às prestações de contas eleitorais. No início de dezembro, em depoimento ao TRE-PR, Moro disse que as alegações dos partidos devem ser "descartadas". Segundo ele, elas não comprovam abuso de poder econômico na campanha de 2022.
Ao depor, o senador afirmou estar "profundamente ofendido" com ações movidas pelo PL e pelo PT. Moro disse então:
— Me sinto violado quando as partes alegam que meus gastos com segurança deveriam ser considerados para cassação do meu mandato. Fui juiz da Lava-Jato que veio concorrer em uma eleição altamente polarizada.
Em seguida, o magistrado citou os planos do Primeiro Comando da Capital de sequestrá-lo (PCC) investigados pela Polícia Federal.
— Coloquei como condição necessária que houvesse segurança. Não sabíamos que havia risco de sofrermos atentados como existe hoje — declarou.