O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva , disse nesta segunda-feira (11), acreditar que o ex-presidente da República Jair Bolsonaro (PL) esteve envolvido na "perspectiva" de um golpe de Estado. Lula evitou, entretanto, falar sobre a delação premiada do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro.
— Acho que ele (Bolsonaro) está altamente comprometido. A cada dia vai aparecer mais coisa e, a cada dia, nós vamos ter certeza de que havia a perspectiva de golpe e que ele estava envolvido nela até os dentes. É isso que vai ficar claro. O tempo vai se encarregar. A única chance que ele tinha de não participar disso era quando ele estava preocupado em vender as joias", afirmou Lula, durante entrevista coletiva em Nova Déli, após a Cúpula do G20.
O presidente da República, porém, não quis opinar sobre a delação de Mauro Cid, homologada no fim de semana pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.
— Não posso dar palpite sobre o que não conheço, não sei o que tá lá. Só sabe o delegado que ouviu e o coronel que prestou depoimento. O resto é especulação.
Por fim, o chefe do Executivo declarou ainda que Bolsonaro estava preocupado em "vender as joias" e que o ex-presidente é "responsável por parte das coisas ruins que aconteceram" no Brasil.
— É isso que vai ficar claro, o tempo vai se encarregar. A única chance que ele tinha de não participar disso é quando ele estava preocupado em vender as joias — disse.
A delação
O ministro Alexandre de Moraes validou a delação de Mauro Cid, após a celebração de um acordo de colaboração entre o ex-ajudante de ordens e a Polícia Federal (PF).
A delação em questão está relacionada ao inquérito das milícias digitais e a todas as investigações associadas, incluindo a apuração sobre a venda de presentes oficiais recebidos durante o governo Bolsonaro.
No que diz respeito ao inquérito das milícias digitais, a PF está apurando a alegada existência de uma organização criminosa com o propósito de subverter o Estado Democrático de Direito.
Cid foi detido em maio deste ano, como parte de uma operação da Polícia Federal que tinha como objetivo investigar a inserção de informações falsas de vacinação no sistema do Sistema Único de Saúde (SUS), juntamente com a emissão de certificados de imunização contra a covid-19.
Após a homologação do acordo de delação, Cid obteve liberdade provisória concedida pelo STF. Ele foi libertado ainda no sábado e está sujeito ao uso de uma tornozeleira eletrônica.
Decisão de Moraes
A liberdade provisória concedida a Mauro Cid pelo ministro Moraes inclui medidas cautelares. Isso significa que o ex-ajudante de ordens deve cumprir as seguintes determinações impostas pelo STF:
- uso de tornozeleira eletrônica;
- comparecimento em juízo em 48 horas, e comparecimento semanal posterior, às segundas-feiras;
- proibição de sair do país e entrega do passaporte em 5 dias;
- cancelamento de todos os passaportes emitidos pelo Brasil em nome dele;
- suspensão de porte de arma de fogo, assim como de certificado de registro para coleção, tiro esportivo e caça;
- proibição de uso de redes sociais;
- proibição de falar com outros investigados, inclusive por meio de seus advogados. As exceções são a mulher, filha e pai dele.
O ministro ordenou ainda a suspensão das atividades do tenente-coronel em seu cargo de oficial no Exército. Na decisão, Moraes ressaltou que, em caso de violação das medidas cautelares, Cid poderá ser novamente detido.