O príncipe herdeiro e primeiro-ministro da Arábia Saudita, Mohammed Bin Salman Al Saud, cancelou neste sábado (9) uma reunião bilateral que teria com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, à margem do G-20, na Índia. Segundo a Presidência da República, o governo saudita desmarcou a conversa e alegou que houve uma "situação de urgência na delegação".
O Palácio do Planalto não especificou qual situação de urgência motivou o cancelamento. É a segunda vez que se desmarca horas antes de ocorrer um encontro formalmente agendado entre Lula e o príncipe MBS, como é conhecido. Desta vez, do lado saudita.
Em junho, foi o presidente Lula quem optou por suspender a conversa. Lula iria a um banquete oferecido pelo saudita em sua homenagem, em Paris, na França, mas alegou cansaço. O petista afirmou que remarcaria a conversa para quando fosse possível e disse que havia interesse do Brasil em receber investimentos externos do pais árabe, principal parceiro comercial no Oriente Médio.
Uma fotografia entre eles teria o potencial de desgaste político para Lula, uma vez que o príncipe comanda um regime autoritário, no qual as mulheres vivem restrições de direitos, e foi acusado de ordenar a morte de um jornalista.
Segundo relatório de inteligência dos EUA divulgado em 2021, Bin Salman aprovou uma operação para capturar e matar o jornalista Jamal Ahmad Khashoggi, crítico do regime de sua família, num consulado do país em Istambul, na Turquia, em 2018. O corpo do jornalista dissidente foi desmembrado, e seus restos mortais nunca foram localizados. Mesmo assim, MBS recebeu imunidade nos EUA contra um processo movido pela ex-noiva de Khashoggi, depois de ter sido formalmente nomeado para a chefia do governo em Riad, em setembro do ano passado.
Como o Estadão revelou, a Casa de Saud, família de Bin Salman, ofereceu de presente joias milionárias ao então presidente Jair Bolsonaro (PL), e à primeira-dama, Michelle Bolsonaro. Eles tentaram trazer as peças ilegalmente ao Brasil, no que posteriormente descobriu-se ser parte de um esquema de desvio e venda de bens presenteados por autoridades estrangeiras. O caso é investigado na Operação Lucas 12:2, da Polícia Federal.
Turquia
Lula se reuniu com o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, também reconhecido por reforçar práticas autoritárias em seu país e perseguir opositores e minar a independência de instituições, como o Judiciário.
No encontro, ele disse ao turco que o G-20 "não pode fixar as discussões apenas na guerra entre Rússia e Ucrânia, porque há outras crises no mundo, como a fome, a pobreza extrema e os desafios climáticos, que demandam atenção imediata", segundo a o Planalto. O teor da manifestão de Lula se assemelha ao argumento repetido por russos e chineses, cujos presidentes se ausentaram do G-20.
O petista elogiou a mediação de Erdogan entre Kiev e Moscou. Lula se colocou à disposição para colaborar e disse que o Brasil apoia a retomada do acordo de grãos, que a Rússia rompeu em julho. Um dos principais pontos do discurso de Lula são os impactos do confronto bélico na produção e distribuição de alimentos e no mercado de fertilizantes.
Segundo informações da Presidência, Lula afirmou ao turco que deseja aprofundar a coordenação de posições em âmbito internacional e retomar parceria, especialmente em Defesa. O comércio entre os países chegou ao ápice histórico em 2022, com US$ 4,9 bilhões.
Os presidentes conversaram sobre o setor aéreo. Lula disse que pretende facilitar a aquisições de aeronaves da fabricante brasileira Embraer pela Turkish Airlines, companhia nacional do país.