A iminente reforma ministerial planejada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva enfrenta resistências nos diretórios gaúchos do PP e do Republicanos. Com assento praticamente garantido no redesenho da Esplanada, os dois partidos fizeram campanha para a reeleição de Jair Bolsonaro em 2022 e têm no Rio Grande do Sul um feudo da oposição ao PT.
A adesão ao governo tem a chancela do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), atualmente o político mais influente do Congresso. Pelo acordo celebrado por Lula e Lira na semana passada, serão ministros os deputados André Fufuca (PP-MA) e Silvio Costa Filho (Republicanos-PE). Ainda não foram definidas as pastas que cada um irá ocupar.
Ao levar os dois partidos para o governo, Lula espera ampliar sua base de apoio no Congresso, garantindo maior tranquilidade na votação de temas importantes. Todavia, os oito parlamentares gaúchos das legendas (quatro do PP e quatro do Republicanos) descartam alinhamento automático com o Planalto.
— O partido vai manter a coerência. Somos oposição e assim vamos continuar — diz o deputado Covatti Filho.
Favorito para a eleição que irá definir o novo presidente do PP-RS, Covatti diz que a entrada no governo não tem aval da cúpula. O presidente nacional da sigla, senador Ciro Nogueira (PI), estará no Estado em 19 de agosto e pretende fazer uma manifestação incisiva contra o flerte de parte da bancada com o Planalto. Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo nesta semana, Nogueira disse ser “radicalmente contra” à aliança com Lula.
A movimentação ocorre no momento em que o PP procura sedimentar uma imagem de partido de direita. Consultorias contratadas pela legenda estão trabalhando em um reposicionamento doutrinário e de marketing que visa acentuar o ideário conservador. Até mesmo a troca do nome do partido está sendo cogitada.
— Temos divergências de fundo com o PT e as urnas nos colocaram na oposição. A forma como isso está acontecendo também é desrespeitosa, com convites individuais que não são submetidos às instâncias partidárias — reclama o atual presidente do PP-RS, Celso Bernardi.
A ida de Fufuca para o ministério abre outro ponto de disputa no partido. Como o deputado é o atual líder na Câmara, a ala oposicionista vai tentar impedir que a vaga seja ocupada por alguém simpático ao governo. O grupo refratário ao PT tenta colocar na liderança um dos poucos parlamentares independentes, mas será uma briga renhida. Nos cálculos do Planalto, 34 dos 49 deputados estão dispostos a aderir, muitos dos quais já mantêm afilhados em cargos de segundo e terceiro escalão da Esplanada.
No Republicanos, a situação é semelhante. O atual líder, Hugo Motta (PB) se apresenta como independente, mas mantém a esposa em um cargo na Codevasf, uma das estatais mais cobiçadas pelo centrão. As projeções dos articuladores políticos do governo estimam que até 35 dos 41 deputados podem apoiar o governo com a reforma ministerial. A defecção seria de seis bolsonaristas empedernidos como o gaúcho Luciano Zucco, presidente da CPI do MST.
— Vejo a adesão de forma muito negativa. Já deixei claro minha posição contrária e permanecerei na oposição — afirma o deputado.
À frente do partido no Estado, o deputado Carlos Gomes diz que a sigla jamais discutiu entrar no governo e que o presidente nacional, Marcos Pereira, já reafirmou três vezes a independência da bancada.
— O governo está tentando nos cooptar, mas não vai levar todo o partido. A maioria é independente. Quem tem um Tarcísio de Freitas (governador de São Paulo, filiado ao Republicanos) não precisa de mais nada para se colocar como opção na eleição presidencial de 2026 — sustenta Gomes.
As bancadas
PP
- 49 deputados — 3 gaúchos (Afonso Hamm, Covatti Filho e Pedro Westphalen)
- 6 senadores — 1 gaúcho (Luis Carlos Heinze)
Republicanos
- 41 deputados — 3 gaúchos (Carlos Gomes, Franciane Bayer e Luciano Zucco)
- 4 senadores — 1 gaúcho (Hamilton Mourão)