O sargento Luís Marcos dos Reis, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), assumiu nesta quinta-feira (24) ter participado dos atos antidemocráticos ocorridos em Brasília. A declaração foi feita à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do 8 de Janeiro. O militar ainda se disse arrependido de se envolvido na invasão aos prédios dos três poderes.
Reis assumiu ter subido a rampa do Congresso e, no local, ter tirado fotos do prédio depredado. O militar disse que se arrependeu do ato, mas contemporizou sob o argumento de que não havia ninguém para impedir a sua entrada. Ele ainda afirmou ter chegado na Esplanada dos Ministérios quando, segundo ele, a invasão já estaria pacificada.
— Eu subi a rampa, estava cheio de gente ali, tirei a foto e fui embora para casa — disse o sargento.
O militar é suspeito de pagar contas da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro com dinheiro vivo repassado por uma empresa de material de construção que tinha contratos com o governo. Quando questionado sobre o assunto, o sargento optou por fazer uso do direito a silêncio, sob a justificativa de que sua versão consta em depoimento à Polícia Federal (PF).
O militar trabalhou como assessor do ex-presidente e era o braço direito do tenente-coronel Mauro Cid na Ajudância de Ordens da Presidência.
O dinheiro recebido por Reis foi repassado pela Cedro do Líbano. Ao menos R$ 18 mil foram transferidos da conta da empresa para o militar.
O sargento alegou ter pedido os repasses ao dono da empresa, Vanderlei Barros, a quem chamava de amigo. O militar, contudo, não soube justificar o motivo de as transferências não terem sido feitas por meio da conta bancária do empresário.
— Existe muita confusão nesse emaranhado de transações financeiras, que nesta CPI nós precisamos saber que irrigou o 8 de janeiro — disse a relatora da comissão, Eliziane Gama (PSD-MA).
Reis está preso desde maio acusado de participação no esquema de fraudes nas carteiras de vacinação de Bolsonaro. Conforme o jornal O Estado de S. Paulo, o sargento movimentou R$ 3,3 milhões em suas contas e repassou parte do dinheiro para Mauro Cid no que foi identificado pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) como movimentações atípicas.
O militar recebia R$ 13 mil por mês. À CPI, O sargento justificou as movimentações atípicas em suas contas como parte de um "consórcio".
Requerimentos
Antes do início do depoimento de Reis, a CPI aprovou a quebra de sigilos bancário e fiscal da deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) e do hacker Walter Delgatti Neto. Mauro Cid foi reconvocado pelo colegiado. Os requerimentos foram aprovados em bloco.