O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes ironizou o ex-deputado Deltan Dallagnol (Podemos-PR), neste sábado (15), ao afirmar que ele "já pode fundar uma igreja" por causa da "chuva de Pix" que Dallagnol disse ter recebido após ter o mandato cassado.
A declaração do ministro ocorreu durante um evento online do Prerrogativas, grupo de advogados criado para atuar contra decisões classificadas por eles como arbitrárias no âmbito da Operação Lava-Jato.
— É o novo contato com a espiritualidade, a espiritualidade do dinheiro — disse Gilmar Mendes.
No dia 12 de junho, Deltan Dallagnol publicou um vídeo nas suas redes sociais agradecendo às transferências via Pix que teria recebido de seus apoiadores, chamando o gesto de "expressão de solidariedade" e os doadores de "agentes de Deus em sua vida".
— Imaginei Deus respondendo o seguinte: quando foi que eu permiti que você e sua família fossem tocados? Quando você foi condenado a pagar mais de R$ 100 mil por conta do powerpoint, eu não fiz chover mais de 12 mil pix em menos de 36 horas na sua conta? Não foi mais de R$ 500 mil sem você abrir a boca para pedir? Quando você viu qualquer coisa parecida, homem de pequena fé? Não tema. Seja forte e corajoso — disse o ex-procurador da Lava Jato na ocasião.
O evento era um tributo ao ministro do Supremo Sepúlveda Pertence, que morreu no começo de julho. Ao lado do advogado e ex-ministro da Justiça de Dilma Rousseff (PT), Eugênio Aragão, e do procurador-geral da República aposentado Aristides Junqueira, Gilmar relembrou feitos do ministro e momentos marcantes da sua carreira, sobretudo na luta pelos valores democráticos.
Parte das falas do ministro, no entanto, foi dedicada a críticas do que chamou de "modelo Moro-Dallagnol". Além da fala sobre o ex-procurador fundar uma igreja, ele citou a atuação da força-tarefa da Lava Jato como um modelo a ser evitado.
— O que eu diria para as novas gerações? Mirem naquilo que não deu certo. O modelo Moro-Dallagnol deu errado. Vamos salvar o Judiciário desse grande escândalo. Não acreditem que são o quarto poder, porque não são — disse.
O ministro também criticou as investigações em andamento sobre o fundo da Lava-Jato — que reunia valores apreendidos nos casos que entraram na mira da força-tarefa. Gilmar disse que a 13ª Vara de Curitiba teria decidido sozinha o destino de R$ 5 bilhões.
— Se alguém depositasse um dinheiro em uma vara, ou tivesse a conta do meu gabinete, eu diria "não é meu (o dinheiro), não posso destiná-lo". No limite, isso tem que ir para o cofre do Tesouro. Veja, a que ponto chegamos de degenerescência — disse o ministro.