O encontro entre presidentes sul-americanos, que acontece em Brasília nesta terça-feira (30), foi aberto por um discurso do presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, mentor do evento, que reúne representantes de 10 nações.
— O que nos reúne hoje em Brasília é o sentimento de urgência de voltar a olhar coletivamente para nossa região, é a determinação de redefinir uma visão comum e relançar ações concretas para o desenvolvimento sustentável, a paz e o bem-estar de nossas populações — disse Lula, destacando que a integração com a América Latina está prevista na Constituição brasileira.
No discurso, Lula destacou 10 pontos que sugere que sejam debatidos entre os países nesta terça. Entre os temas, ele voltou a falar da criação de uma moeda para transações regionais entre as nações.
Veja os pontos citados por Lula:
- colocar a poupança regional a serviço do desenvolvimento econômico e social, mobilizando bancos de desenvolvimento
- aprofundar nossa identidade sul-americana também na área monetária, mediante mecanismos de compensação mais eficientes e a criação de uma unidade de referência comum para o comércio, reduzindo a dependência de moedas extrarregionais
- implementar iniciativas de convergência regulatória, facilitando trâmites e desburocratizando procedimentos de importação e exportação de bens
- ampliar mecanismos de cooperação que envolvam serviços, investimentos, comércio, eletrônica e políticas de concorrência
- atualizar carteira de projetos do Conselho Sul-americano de Infraestrutura e Planejamento, reforçando a multimodalidade e priorizando os de alto impacto para integração física e digital, especialmente nas regiões de fronteira
- desenvolver ações coordenadas para enfrentamento das mudanças do clima
- reativar o instituto sul-americano de governo em saúde, que permitiria adotar medidas para ampliar cobertura vacinal, fortalecer complexo industrial de saúde e expandir atendimento a populações carentes e povos indígenas
- lançar a discussão da constituição de mercado sul-americano de energia
- criar programa de mobilidade regional para estudantes, pesquisadores e professores no Ensino Superior
- retomar cooperação na área de Defesa
O presidente brasileiro ainda propôs a criação de um fórum com representantes dos governos sul-americanos. O grupo teria 120 dias para apresentar propostas de avanço na integração regional.
— Estou pessoalmente convencido da necessidade de um fórum que nos permita discutir com fluidez e regularidade e orientar a atuação dos nosso países para fortalecimento da integração em várias dimensões. Julgo essencial a criação de um grupo de alto nível, a ser integrado por representantes pessoais de cada presidente — propôs Lula.
Contexto "ainda mais desafiador"
O presidente brasileiro destacou iniciativas que considera bem-sucedidas do passado, mas que perderam força nos últimos anos, e afirmou que o contexto atual é "ainda mais desafiador", citando os impactos da pandemia de covid-19, as mudanças climáticas, a postura protecionista dos países ricos, a guerra na Ucrânia e o crescimento de movimentos extremistas.
— Nenhum país poderá enfrentar isoladamente as ameaças sistêmicas da atualidade. Apenas atuando unidos conseguiremos superá-las. Nossa região possui trunfos sólidos para fazer face a esse mundo em transição — opinou.
— Não temos tempo a perder. A América do Sul tem diante de si, mais uma vez, a oportunidade de trilhar o caminho da união. E não é preciso começar do zero — continuou.
Neste ponto, Lula citou a União de Nações Sul-Americanas (Unasul), criada em 2008:
— A Unasul é um patrimônio coletivo. Lembremos que ela está em vigor. Sete países ainda são membros plenos. É importante retomar seu processo de construção, mas, ao fazê-lo, é essencial avaliar criticamente o que não funcionou e levar em conta estas lições. Precisamos de mecanismos de coordenação flexíveis, que confiram agilidade e eficácia na execução de iniciativas.
Participam do encontro os presidentes Alberto Fernández (Argentina), Luís Arce (Bolívia), Gabriel Boric (Chile), Gustavo Petro (Colômbia), Guillermo Lasso (Equador), Irfaan Ali (Guiana), Mário Abdo Benítez (Paraguai), Chan Santokhi (Suriname), Luís Lacalle Pou (Uruguai) e Nicolás Maduro (Venezuela). A mandatária peruana, Dina Boluarte, não pôde participar e é representada pelo presidente do Conselho de Ministros, Alberto Otárola.
Após o discurso de abertura proferido por Lula, os demais representantes de países tiveram espaço para pronunciamentos. Em seguida, ocorreu a sessão de trabalho. A programação previa almoço às 13h30min e novo diálogo entre os presidentes às 15h. O encerramento está marcado para as 18h, quando é esperado novo pronunciamento de Lula, e a agenda encerra às 20h30min, com um jantar.
Veja a íntegra do discurso: