Os mais de 130 mil imóveis populares cujas construções estão paralisadas ou atrasadas no país envolvem situações dramáticas. A espera pela conclusão de obras é tamanha que algumas pessoas morrem antes de concretizar o sonho da casa própria. É o caso do agricultor aposentado Décio Luís Corrêa de Souza, morador de Mostardas, no Litoral.
Souza foi contemplado com uma residência, nos contratos firmados pela prefeitura local com o Ministério das Cidades para construção de 22 imóveis pelo Minha Casa Minha Vida. Dessas, 15 foram concluídas, uma foi iniciada (apenas a fundação) e as seis restantes jamais saíram do papel, porque os recursos federais para as obras deixaram de ser repassados ao município.
Souza morava numa casinha de madeira e, conforme seu sobrinho Olavo Lemos, ficou eufórico com a notícia de que receberia uma residência de alvenaria. Só que o imóvel nunca veio. O aposentado teve dois AVC e depois teve uma perna amputada por problemas circulatórios.
— E essa casa não chegava nunca. Ele desanimou e Deus levou, né... Esperou uns três anos e a casa não saiu do chão. Complicado, né. Até para pagar a mortalha dele tive de vender o terreno dele — resume Lemos.
O prefeito de Mostardas, Moisés Pedone da Silva (PP), diz que procurou o governo do Estado, além do federal, para concluir as casas. Sem resultado.
— Até sugerimos colocar recursos da prefeitura para terminar tudo. Mas o Tribunal de Contas do Estado alertou que, por não ser obra do município, não poderíamos alocar recursos para isso. Estamos até hoje vivenciando essa situação, inclusive pessoas que já faleceram e não tiveram a casa concluída.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve anunciar nesta terça-feira (14) a retomada imediata de obras em 5 mil imóveis do Minha Casa Minha Vida. Mas nenhum projeto do Rio Grande do Sul está contemplado nesse primeiro lote a ter continuidade.