À frente dos planos de curto, médio e longo prazo para combater a crise humanitária que atinge os yanomami no norte do país, a ministra da Saúde, Nísia Trindade, disse nesta quinta-feira (26) que a situação de crianças e adultos atingidos pela fome e por doenças na região é uma situação deliberada.
Segundo Nísia, os habitantes da Terra Indígena Yanomami, em Roraima, foram abandonados. A manifestação ocorreu após participação da ministra na primeira reunião anual da Comissão Intergestores Tripartite (CIT), em Brasília, para definir as principais ações para a saúde em 2023.
— É uma situação de abandono, inadmissível. O abandono é uma política que precisamos superar com atenção integral à população indígena. Em contraponto ao abandono, a nossa política terá que ser coletiva e de cuidado — disse.
Na quarta-feira (25), a ministra teve reunião com o governador do Roraima, Antonio Denarium, e o ministro do Desenvolvimento Social, Wellington Dias. O objetivo do encontro foi traçar medidas para ampliar o atendimento aos povos indígenas do Estado.
Além das ações emergenciais iniciadas na semana passada, o Ministério da Saúde pretende lançar novo edital para o programa Mais Médicos, inclusive para contratação de profissionais estrangeiros, a fim de acelerar o incremento no número de profissionais que atendem na região.
O Ministério da Saúde declarou, na última sexta (20), estado de emergência de saúde pública para enfrentar a falta de assistência sanitária das populações no território yanomami. A Força Nacional do SUS está na região para atender emergencialmente pessoas em severo grau de desnutrição e acometidas por doenças como malária e verminose.
— A fome é um terrível indicador, mas a causa é o garimpo ilegal que desestruturou as condições de vida, com a contaminação de rios, propiciando condições para o aumento dos casos de malária, através das escavações em que se acumula água — disse Nísia.
Investigações
Na noite de quarta-feira, o Ministério dos Direitos Humanos divulgou comunicado em que afirma que a antiga pasta da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos recebeu, entre 2019 e dezembro de 2022, diversas denúncias envolvendo violações de direitos dos povos indígenas, todas registradas pela ouvidoria.
O Ministério Público Federal (MPF) diz que também já alertava para a gravidade da situação dos povos residentes na reserva desde 2021.
Por determinação do Ministério da Justiça e Segurança Pública, a Polícia Federal (PF) instaurou inquérito para apurar os crimes de genocídio, omissão de socorro, crimes ambientais, além de outros crimes conexos na terra yanomami. Sob sigilo, a investigação tramita na Superintendência Regional da PF em Roraima.