Com placar apertado, a Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu revogar a prisão preventiva decretada contra o ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral, no processo em que foi condenado pelo então juiz Sérgio Moro a 14 anos e dois meses de prisão por supostas propinas nas obras do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro. O decano Gilmar Mendes deu o voto decisivo no caso, acompanhando o entendimento de que há "excesso de prazo" na medida.
Com a decisão, a expectativa da defesa é a de que o ex-governador possa deixar o cárcere de Bangu 8. Cabral era o último político preso na Lava-Jato, estando custodiado desde novembro de 2016 e sendo alvo de sentenças que somam mais de 430 anos de prisão.
No último mês de novembro, os desembargadores da 5ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro revogaram outras duas ordens de prisão contra o ex-mandatário no bojo de processos sobre o suposto pagamento de propinas ao ex-procurador de Justiça Cláudio Lopes.
No STF, Gilmar Mendes seguiu o posicionamento dos ministros André Mendonça e Ricardo Lewandowski, este último o que apresentou o voto divergente que acabou se sagrando vencedor. O entendimento dos ministros é o de que haveria "excesso de prazo" na prisão de Cabral, sem data para acabar. Mendonça, por exemplo, destacou o "longo período" decorrido desde o decreto de prisão do ex-governador, além de "significativa mudança das circunstâncias" do caso.
"Não se trata, assim, de absolver o ex-governador do Rio de Janeiro pelo crimes imputados na ação penal n.º 506327136.2016.4.04.7000, nem de negar que os fatos narrados pelo órgão acusador são graves e demandam apuração rigorosa pelo Poder Judiciário. Se trata apenas de afirmar que, em um Estado Democrático de Direito, nenhum cidadão brasileiro, por mais graves que sejam as acusações que pesam em seu desfavor, pode permanecer indefinidamente submetido a medidas processuais penais extremas, como a prisão cautelar", escreveu Gilmar em seu voto.
Restaram vencidos o relator, Edson Fachin, e o ministro Kassio Nunes Marques. O primeiro entende que a "indispensabilidade" da prisão de Cabral está ligada à gravidade concreta das condutas imputadas ex-mandatário e ao "risco de reiteração delitiva". Na avaliação do magistrado, "não faz qualquer sentido, no atual estágio da ação penal em que se está próximo do trânsito em julgado da sentença condenatória e permanecendo os fundamentos da custódia preventiva", colocar o ex-governador em liberdade.
A decisão foi proferida durante julgamento no plenário virtual, ferramenta que permite aos ministros depositarem seus votos a distância. A análise do caso começou no último dia 9.
Em simultâneo, os integrantes da 2ª Turma analisam, também em julgamento no Plenário virtual, um outro habeas corpus, que impactaria em larga escala a ação na qual Cabral foi condenado. Neste, antes mesmo de Gilmar apresentar seu voto, já havia sido formada maioria no sentido de impor uma derrota ao ex-governador do Rio de Janeiro.
No processo em questão, a defesa de Cabral pediu ao STF que declare a incompetência da 13ª Vara Federal de Curitiba na ação penal aberta contra ele a partir das investigações da Operação Lava-Jato por supostas propinas nas obras do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro. Os ministros André Mendonça e Kassio Nunes Marques seguiram o entendimento do relator, Edson Fachin, de que há competência da 13ª Vara Federal de Curitiba no caso.
Restou vencido o ministro Ricardo Lewandowski, que defendia a remessa do caso para a Justiça Federal, com anulação de todas as decisões proferidas na ação, desde o despacho que colocou Cabral no banco dos réus, derrubando a condenação imposta ao ex-governador por Moro.
A defesa de Sérgio Cabral, representada pelos advogados Daniel Bialski, Bruno Borrangine, Patricia Proetti e Anna Júlia Menezes, afirma que ele deverá permanecer em prisão domiciliar aguardando a conclusão das demais ações penais, acrescentando que "confia em uma solução justa voltada ao reconhecimento de sua inocência e de uma série de nulidades existentes nos demais processos a que responde".