Há dois anos sem partido, o presidente Jair Bolsonaro disse, em entrevista à CNN, nesta segunda-feira (8), que está "99% fechado" para filiar-se ao Partido Liberal (PL). A sigla é presidida por Valdemar Costa Neto, ex-aliado do PT.
Conforme a emissora, o presidente disse ainda que há "zero" chance de a negociação dar errada. Bolsonaro afirmou, entretanto, que a decisão final será definida a partir de uma reunião que ocorrerá na próxima quarta-feira (10) com integrantes do partido.
— Na quarta-feira, terei a última conversa com a sigla. Irei conversar com o Valdemar para, em seguida, marcar a data do casamento — ressaltou.
Nas últimas semanas, o Progressistas (PP) e o PL intensificaram as negociações com o presidente.
Presidente nacional e "dono" do PL, o ex-deputado Valdemar Costa Neto confirmou ter conversado nesta segunda-feira com Bolsonaro, que avisou já ter comunicado sua decisão ao ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira.
— Ele disse para mim que falou com o Ciro hoje. E que o Ciro entendeu. Então, vamos tocar para frente o assunto e ver quando vamos fazer essa filiação — afirmou Costa Neto ao Estadão.
Ciro é o presidente do Progressistas, mas se licenciou da função, e também da cadeira de senador, quando foi nomeado para a Casa Civil, no fim de julho. Mesmo assim, é ele quem conduz as negociações mais importantes do partido.
— Hoje, o presidente me informou que conversou com o Ciro e que falou com os outros partidos. Porque ele tem de se entender com todos. E nós temos de nos entender para que todos sejam atendidos. Porque política é isso — destacou Costa Neto, um dos personagens centrais do escândalo do mensalão, em 2005.
Na negociação para entrar no PL, Bolsonaro tem se preocupado em amarrar um acerto político pelo qual os partidos mais próximos de seu governo, como o Progressistas e o Republicanos, também integrem a aliança para a campanha da reeleição. Na disputa de 2018, o então candidato do PSL se referia a essas legendas como "velha política".
Agora, no entanto, o partido de Ciro Nogueira poderá ter o vice na chapa encabeçada por Bolsonaro. Mas o nome deverá ser indicado de comum acordo com o presidente.
Desde novembro de 2019 Bolsonaro está sem partido. Após ter brigado com o comando do PSL, ele tentou fundar o Aliança pelo Brasil, mas não conseguiu as assinaturas necessárias para formalizar a sigla no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Tentou, então, entrar em vários outros partidos, como Republicanos, PRTB e Patriota, mas enfrentou uma série de obstáculos porque sempre apresentava a exigência de mandar no partido, inclusive no caixa
Havia uma preocupação do núcleo bolsonarista com o fato de o Progressistas ter muito mais alianças regionais com adversários do governo e também mais "caciques". Principal partido do centrão, o Progressistas também abriga o presidente da Câmara, Arthur Lira (AL), mas diretórios do partido no Nordeste — como os da Bahia e de Pernambuco — pretendem apoiar candidatos do PT aos governos estaduais e devem fechar acordo com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que hoje lidera as pesquisas de intenção de voto para a sucessão de Bolsonaro.
Além disso, em São Paulo, o Progressistas é alinhado com o governador João Doria e planeja aderir à campanha do vice-governador Rodrigo Garcia ao Palácio dos Bandeirantes. No PL, a instância de poder é centralizada em Costa Neto. Assim, o partido tem menos resistências à entrada de Bolsonaro em seus quadros.
A cúpula do Progressistas queria filiar o presidente. A estratégia fazia parte do projeto de expansão política para formar a maior bancada de parlamentares do Congresso, ampliando a legenda no Sudeste e no Sul. Mesmo sem Bolsonaro, porém, tudo indica que o partido deve ficar com a vaga de vice na chapa, embora alguns aliados de Bolsonaro temam a opção de dar a vaga a um político. O caso do impeachment da então presidente Dilma Rousseff, quando o próprio Centrão - que a apoiava - avalizou a entrada de Michel Temer - é sempre lembrado. Há uma corrente bolsonarista que defende um nome "de fora" para vice ou alguém indicado pelo próprio presidente. O ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, é um dos citados. Nesse caso, Tarcísio poderia se filiar ao Progressistas, embora haja uma articulação para que ele entre no PL e seja candidato ao governo de São Paulo.
Os partidos de Bolsonaro
- PDC (1989-1993)
- PP (1993)
- PPR (1993-1995)
- PPB (1995-2003)
- PTB (2003-2005)
- PFL (2005)
- PP (2005-2016)
- PSC (2016-2018)
- PSL (2018-2019)
O peso do PL
- 43 deputados federais
- 4 senadores
- 1 governador (Cláudio Castro, do Rio de Janeiro)
- 345 prefeitos
- 46 deputados estaduais
- 3467 vereadores
- Fundo Eleitoral: R$ 117,6 milhões em 2020
- Fundo Partidário: R$ 45,7 milhões 2020 oitavo lugar