Senadores do Partido Democrata, do presidente americano, Joe Biden, alertaram nesta terça-feira (28) para o "declínio democrático" no Brasil com Jair Bolsonaro, destacando que, se o presidente brasileiro descumprir as normas das eleições de outubro de 2022, a relação bilateral corre risco.
Bolsonaro, um dos principais aliados internacionais do antecessor republicano de Biden, Donald Trump, disse que o Brasil poderia ver cenas similares à da multidão de apoiadores do ex-presidente americano, que em 6 de janeiro invadiu o Capitólio, sede do Congresso americano, em Washington, tentando evitar a certificação da vitória presidencial de seu adversário democrata.
Em carta destinada ao secretário de Estado, Antony Blinken, quatro influentes senadores democratas destacaram que "uma alteração da ordem constitucional brasileira poria em risco a própria base" das relações entre os dois países mais populosos do continente americano.
"Nós o instamos a deixar claro que os Estados Unidos apoiam as instituições democráticas do Brasil e que qualquer ruptura antidemocrática com a ordem constitucional atual terá graves consequências", disseram os senadores, entre eles Dick Durbin, o democrata número dois na Câmara Alta, e Bob Menéndez, presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado.
Os senadores americanos expressaram seu alarme pelas declarações "cada vez mais perigosas" de Bolsonaro sobre as eleições gerais de 2022, nas quais prevê se candidatar à reeleição.
Bolsonaro tem dito, sem apresentar provas, que o sistema de votação eletrônico é vulnerável a fraude e declarou que se negará a admitir a derrota se perder.
— Só Deus me tira da cadeira presidencial — declarou Bolsonaro em uma live.
"Este tipo de linguagem imprudente é perigoso para qualquer democracia, mas é especialmente indevido em uma democracia do calibre do Brasil, que durante décadas mostrou-se capaz de realizar transições pacíficas do poder", escreveram os senadores na carta.
Eles também destacaram os "ataques pessoais" de Bolsonaro aos membros do Supremo Tribunal Federal e do Tribunal Superior Eleitoral, ressaltando que ameaçam socavar o Estado de direito.
"Nossa associação com o Brasil deve ser um baluarte contra os atores antidemocráticos, de China e Rússia a Cuba e Venezuela", destacaram os senadores a Blinken, urgindo-o a fazer do apoio à democracia brasileira "uma prioridade diplomática máxima", inclusive na participação brasileira na Otan e na OCDE. O governo Biden tem sido discreto em suas declarações públicas sobre Bolsonaro.
Blinken reuniu-se na semana passada à margem da Assembleia Geral da ONU com o chanceler brasileiro, Carlos Alberto França, em um encontro que, segundo um funcionário do Departamento de Estado, tentou incentivar Bolsonaro, um cético das mudanças climáticas, a elevar as metas brasileiras na luta contra o aquecimento global.
O Brasil será um ator crucial para o planeta na cúpula da ONU sobre o clima em Glasgow em novembro, devido ao papel da Amazônia como sumidouro de gás carbônico.
Bolsonaro, cujo índice de aprovação despencou em parte devido à gestão da pandemia de covid-19, disse que "a chance de um golpe é zero" no Brasil, embora alguns apoiadores seus tenham pedido intervenção militar para mantê-lo no poder.
— Vai ter eleição, não vou melar, fique tranquilo — disse Bolsonaro em entrevista publicada na sexta-feira na revista Veja.