Com o governo alvo de denúncias de irregularidades, principalmente envolvendo as compras de vacinas contra a covid-19, o presidente Jair Bolsonaro admitiu nesta segunda-feira (27) que a corrupção não foi eliminada no seu governo. Durante evento da Caixa Econômica Federal para dar início à programação para lembrar os mil dias de mandato, o chefe do Executivo disse que a corrupção "diminuiu muito" desde que tomou posse.
A declaração destoa do que afirmou o próprio Bolsonaro na 76ª Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU), na última terça-feira (21). Na ocasião, acompanhada por líderes de todo o mundo, o presidente chegou a dizer que o Brasil estava há dois anos e oito meses "sem qualquer caso concreto de corrupção".
— Quando se fala em mil dias sem corrupção... Eliminou-se a corrupção? Obviamente que não. Podem acontecer problemas em alguns ministérios? Podem, mas não será da vontade nossa. Nós vamos buscar maneiras de, obviamente, apurar o caso e tomar providências cabíveis com outros poderes sobre aquele possível ato irregular. Mas diminuiu muito a corrupção no Brasil, muito — declarou Bolsonaro em seu discurso.
— As pressões no passado eram enormes, em governos anteriores. Hoje existem pressões? Existem, mas bem menores — acrescentou, dizendo, ainda, em tom positivo que há hoje um ministério "cada vez mais casando com o Legislativo".
O presidente não esclareceu, contudo, se estaria falando de uma pasta específica ou de todo o seu ministério, e também ignorou as dificuldades do Executivo na articulação com o Congresso.
A bandeira do combate à corrupção foi um dos pilares da campanha do atual presidente na eleição de 2018 — chamada hoje por ele de "completamente atípica".
— Não vai acontecer nos próximos 100 anos de forma igual — disse Bolsonaro, sem explicar exatamente a qual especificidade se referia.
— Estamos acompanhando já os debates antecipados para 2022. Eu sou o melhor? Não. Aqui mesmo, tem dezenas pessoas melhores do que eu, mas quis o destino que caísse o governo, a Presidência ficasse comigo, superando a facada. Uma eleição completamente atípica — acrescentou.
Durante o evento, Bolsonaro ainda fez elogios ao presidente da Caixa, Pedro Guimarães, citando especificamente o auxílio emergencial e os programas de crédito do banco público, e ao ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, responsável pelas inaugurações de obras. A busca de uma "agenda positiva" vislumbra as eleições de 2022.
Paulo Guedes
No evento, Bolsonaro voltou a defender o ministro da Economia, Paulo Guedes, e comentar a entrevista que concedeu à revista Veja na semana passada. Afirmou que se fosse trocar o comandante da Economia, seria por alguém com política diferente da dele.
— A revista Veja perguntou para mim se eu trocaria o Paulo Guedes. Ah, trocar o Paulo Guedes, se for para trocar tem que trocar por alguém com política diferente da dele. Se não, é trocar seis por meia dúzia. Se não tivesse alguém com a garra dele, será que teria caído apenas, o que é bastante, 4%? — questionou o presidente, citando o encolhimento da economia brasileira em 2020, primeiro ano da pandemia.
Em uma nova defesa de Guedes, o chefe do Executivo ainda citou o relatório do Fundo Monetário Internacional (FMI) que disse que o desempenho econômico do Brasil tem sido melhor que o esperado:
— Qual economista queria estar no lugar dele, com aquela pandemia, tendo que fazer coisas completamente diferentes daquilo que ele se preparou ao longo de toda a sua vida?
Forças Armadas
Bolsonaro também abordou a obediência das Forças Armadas:
— Se eu der ordens absurdas, vão cumprir? Não. Nem a mim, nem a governo nenhum. As Forças Armadas tem que ser tratadas com respeito.
A fala vem após dúvidas no meio político se parte das Forças Armadas estaria disposta a embarcar em uma ruptura institucional. Como revelou o Estadão/Broadcast, o ministro da Defesa, Walter Braga Netto, mandou recado ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), por meio de um interlocutor, de que não haveria eleições em 2022 sem voto impresso, proposta derrotada no Congresso.