Em mais uma derrota para o governo de Jair Bolsonaro, a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid, no Senado, aprovou nesta quarta-feira (15) um requerimento para convocar a advogada Ana Cristina Valle, ex-mulher do presidente, para prestar depoimento. O motivo é a relação dela com o advogado Marconny Albernaz de Faria, investigado sob suspeita de ter atuado como lobista da Precisa Medicamentos, empresa que fechou contrato bilionário com o Ministério da Saúde para vender vacinas.
A convocação da ex-mulher de Bolsonaro é mais um sinal da falta de articulação do governo no Senado. Minoria na CPI e com relação conturbada com o presidente da Casa, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), o Palácio do Planalto tem sofrido sucessivas derrotas. Na terça-feira (14), teve uma medida provisória que dificultava a remoção de conteúdo das redes sociais devolvida, iniciativa considerada incomum.
Segundo o senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE), Faria demandou a ex-mulher de Bolsonaro por duas vezes em questões relacionadas ao governo. Em uma delas, afirmou o parlamentar, o advogado pediu uma "atenção especial" para um caso de investigação de corrupção. Ana Cristina é mãe de Jair Renan, o quarto filho do presidente, com quem Faria também admitiu ter relação de amizade. Ana Cristina e Jair Renan moram hoje em Brasília.
Em uma segunda oportunidade, o advogado recorreu à ex-mulher de Bolsonaro para influenciar a nomeação ao cargo de chefe da Defensoria Pública da União (DPU). O candidato apoiado por Faria era o defensor público Leonardo Cardoso.
— O detalhamento vai ao nível de escolher se o pedido vai por e-mail, vai por mensagem, que é mais pessoal. Vai ao detalhe de tentar atacar os adversários na corrida pela nomeação, dizendo que são de esquerda — relatou Alessandro Vieira.
Questionado por Vieira se conhecia Cardoso, o advogado disse, primeiro, que não. Depois voltou atrás.
— Estive com ele uma vez — afirmou Faria.