O depoimento na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid desta quarta-feira (25) começou expondo a participação de uma empresa cercada de suspeitas no contrato da Covaxin. O convocado é o diretor da FIB Bank, Roberto Pereira Ramos. A empresa foi usada para oferecer uma carta de fiança pela Precisa Medicamentos na compra das vacinas.
A inconsistência das informações da FIB Bank reforça as suspeitas da CPI sobre um esquema de fraude e superfaturamento no contrato da vacina indiana. Em fevereiro, o Ministério da Saúde empenhou R$ 1,6 bilhão para compra do imunizante. Após o avanço da investigação, o governo cancelou a compra.
De forma inicial, tanto o depoente quanto os senadores deixaram claro que a empresa não é um banco, apesar de ter "bank" no nome. Pela legislação e regulamentação brasileira, a companhia não poderia usar o nome "banco", em português, sem ser de fato uma instituição financeira.
Roberto Pereira Ramos negou ter relações comerciais com Marcos Tolentino, apontado como "dono oculto" da empresa, e com o dono da Precisa Medicamentos, Francisco Maximiano.
O depoimento levantou suspeitas na CPI de que Ramos seria apenas um administrador "laranja" da empresa, já que disse desconhecer alguns dos principais personagens da negociação e não soube informar dados da própria empresa que preside. Ele ainda negou relações da FIB Bank com o líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), investigado pela comissão.
A FIB Bank assinou uma carta de fiança no valor de R$ 80,7 milhões para garantir o transporte da Covaxin no contrato assinado entre a Precisa e o Ministério da Saúde. Após o avanço das investigações da CPI, a compra foi cancelada pela pasta. De acordo com o diretor, a FIB recebeu R$ 350 mil da Precisa ao assinar a garantia.
A CPI suspeita que a FIB Bank seja uma companhia de fachada e cercada de fraudes. O diretor da FIB Bank declarou que a companhia tem capital social de R$ 7,5 bilhões integrado a partir de só dois imóveis. Além disso, a CPI identificou uma remuneração de R$ 4 mil para o diretor, considerada incompatível com, por exemplo, o imóvel que declarou morar, no valor de R$ 400 mil a R$ 500 mil.
Outra inconsistência exposta no início do depoimento foi sobre a carta de fiança para a compra da Covaxin. A FIB Bank havia encaminhado à CPI o documento com a data de 17 de março. No depoimento, o diretor informou uma data diferente — 17 de fevereiro — e foi acusado de fraudar o conteúdo encaminhado anteriormente à comissão. Além disso, supostos sócios da FIB Bank acionaram a Justiça alegando não terem participação na empresa.
— Eu me sinto envergonhado de estar aqui sapateando em cima de uma picaretagem dessa e ainda tentou vender para o governo — afirmou o senador Jorginho Mello (PL-SC), aliado do presidente Jair Bolsonaro, pedindo que o depoimento fosse encerrado com as devidas "providências".
A senadora Simone Tebet (MDB-MS), por outro lado, insistiu na continuidade da audiência.
— A pergunta maior é por que o Ministério da Saúde aceitou uma garantia que não era bancária e que não era permitida. Fazia parte do conluio para fraudar e superfaturar a Covaxin? — questionou a parlamentar.
Fraudes
O depoimento expôs supostas fraudes na FIB Bank. Duas pessoas apontadas como sócias da empresa acionaram a Justiça alegando nunca terem participado da organização. Além disso, dois sócios de outra empresa, a MB Guassu, que teria participação na FIB Bank, estão mortos.
Os senadores insistiram em perguntar quem é o verdadeiro dono da companhia, apontando para Tolentino, ligado a Ricardo Barros, mas não houve resposta. De acordo com o depoente, Tolentino teria procuração para representar apenas um acionista da FIB Bank, Ricardo Benetti.
— A procuração é dada para representar o senhor Ricardo Benetti, e não a FIB — disse Ramos.
Um dos supostos criadores da FIB Bank, Geraldo Rodrigues Machado, encaminhou áudios para a CPI afirmando ter sido vítima de fraude. Machado relatou que descobriu que seu nome foi usado para compor a sociedade da empresa quando teve o crédito negado na hora que tentou financiar uma motocicleta.
— Falsificaram minhas assinaturas vistas em alguns documentos e meu nome constava como um sócio ativo — disse Machado, morador de Pão de Açúcar (AL).