A CPI da Covid ouviu, nesta quinta-feira (1º), o depoimento de Luiz Paulo Dominguetti Pereira, representante da Davati Medical Supply. Ele respondeu aos questionamentos dos senadores por cerca de sete horas.
Dominguetti, que é policial militar em Minas Gerais, falou à comissão do Senado após ter afirmado que recebeu pedido de propina do ex-diretor de Logística do Ministério da Saúde, Roberto Ferreira Dias — que acabou sendo exonerado após a divulgação das denúncias.
Abaixo, confira os principais pontos do depoimento:
Proposta de propina
Em sua fala, Dominguetti confirmou que recebeu um pedido de propina de US$ 1 por dose para vender vacinas ao Ministério da Saúde. Ele se apresentou como representante da Davati Medical Supply e disse que esteve três vezes no ministério em nome da companhia. O preço inicial das doses era de US$ 3,50, declarou.
O policial militar disse ter recebido o pedido de propina no dia 25 de janeiro por Roberto Ferreira Dias, ex-diretor de Logística em Saúde do ministério. Dias foi exonerado do cargo na terça-feira (29).
— Ele sempre pôs o entrave no sentido que, se não majorasse a vacina, não teria aquisição do Ministério da Saúde. Ele disse que a pasta dele tinha orçamento que poderia comprar a vacina — afirmou.
Como policial militar, Dominguetti declarou que atuou na função para ter uma complementação de renda. A Davati afirmou que ele intermediou a relação da companhia com o governo federal na posição de "vendedor autônomo".
Celular apreendido
Durante seu testemunho, Dominguetti apresentou um áudio do deputado federal Luis Miranda (DEM-DF). O depoente alegou que, na conversa, o parlamentar teria tentado negociar a compra de vacinas contra a covid-19 com a empresa — o que foi negado por Miranda (leia mais abaixo).
O áudio atribuído a Miranda provocou controvérsia na CPI. Os senadores suspeitam de uma tentativa do governo de tentar "virar o jogo" na investigação. O aparelho celular do depoente foi apreendido, e o material será periciado.
— Não venha achar que aqui todo mundo é otário, nem pateta. Veja bem qual é seu papel aqui. Do nada surge um áudio do deputado Luis Miranda. Chapéu de otário é marreta, irmão — afirmou o presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-BA).
Luis Miranda foi convocado para prestar novo depoimento, inicialmente secreto, na próxima terça-feira (6). Aziz, porém, anunciou que a audiência será pública.
Miranda rebate acusação
Após ser citado, Miranda foi até a sala onde a CPI ouvia Dominguetti e teve de ser contido por colegas e pela Polícia Legislativa do Senado. Em entrevista a jornalistas logo em seguida, disse que o policial mentiu. Segundo o deputado, a mensagem tratava de aquisição de luvas, e não de vacinas, e foi enviada em outubro de 2020.
— A intenção é clara desde o princípio, é descredibilizar as testemunhas que de fato trouxeram evidência que existe corrupção dentro do Ministério da Saúde — disse Miranda.
Pedido de apoio a coronel
Em seu depoimento, Dominguetti afirmou que relatou o suposto pedido de propina do Ministério da Saúde para venda de vacinas a um coronel da Polícia Militar de Minas Gerais. Esse coronel, identificado como Romualdo, teria acionado o gabinete do deputado Cabo Junio Amaral (PSL-MG), aliado do presidente Jair Bolsonaro.
— Era surreal o que estava acontecendo. Eu pedi ajuda — disse à CPI.
De acordo com ele, o coronel Romualdo não retornou ao pedido. Após a conversa com o então diretor da pasta, Dominguetti relatou ter conversado com o ex-secretário-executivo do Ministério da Saúde Elcio Franco. A negociação, porém, não foi efetivada.
Convite para representar Sputnik V
Dominguetti disse ainda que teve um convite para representar a venda de doses da vacina russa Sputnik V no Brasil. Questionado pelo senador Marcos Rogério (DEM-RO), ele afirmou ter trabalhado apenas para a Davati nas ofertas a municípios.
O parlamentar apresentou documentos e afirmou que Dominguetti ofertou doses da empresa Johnson e Johnson, fabricante da Janssen. O vendedor, porém, negou ter representado a companhia.
Pedidos de prisão na CPI
Após vários pedidos de senadores para que Dominguetti fosse preso por ordem da CPI da Covid, Omar Aziz afirmou que não iria ordenar a prisão do depoente em respeito à família do policial e classificou como grave a atuação dele frente à CPI.