Imagens divulgadas nesta sexta-feira (4), pelo site Metrópoles, mostram o presidente Jair Bolsonaro participando, em setembro do ano passado, de uma reunião com médicos e outras pessoas. Senadores que compõem a CPI da Covid classificam o grupo como "ministério paralelo". Trata-se de um grupo extraoficial que, na visão desses parlamentares, aconselharia ações a serem tomadas pelo governo no combate à covid-19.
Ao longo de um mês de CPI, integrantes e ex-integrantes do governo Bolsonaro têm negado a existência dessa estrutura, apontada pelo ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta em seu depoimento. Para o senador Omar Aziz (PSD-AM), presidente da CPI, as imagens comprovariam a atuação de um ministério paralelo.
— Não se trata mais de falar que supostamente existe algo. Está comprovado. Esses ataques todos de Bolsonaro só demonstram o desespero do presidente — disse Aziz à reportagem. — Por que você acha que o ministro (Eduardo) Pazuello disse, aquele dia, que um manda e outro obedece? Porque era assim, ele só executava ordens — completou.
O encontro com Bolsonaro teve a participação do ex-ministro da Cidadania Osmar Terra (MDB-RS), que ficou conhecido como um dos principais defensores da cloroquina, medicação sem nenhuma eficácia no tratamento da doença, e da tese da imunidade de rebanho — pela qual a imunização se daria de forma natural ao passo que a população fosse infectada.
Nas imagens da reunião que ocorreu em 8 de setembro, participantes fazem uma série de críticas e ressalvas à aplicação de vacinas. Osmar Terra é citado como um "guia intelectual" do grupo, com influência direta sobre as decisões do Ministério da Saúde.
Entre os participantes do encontro, estão a imunologista Nise Yamaguchi, que prestou depoimento nesta semana à CPI da Covid, em convite feito pela comissão.
— Uma honra trabalhar com o senhor neste período — afirmou Nise, referindo-se a Osmar Terra na reunião de setembro.
Aos senadores, a médica negou a existência de um gabinete paralelo e disse que prestava apenas "aconselhamento" ao governo. Disse também que nunca esteve sozinha com o presidente Bolsonaro.
Vacinas
Os trechos divulgados pelo Metrópoles indicam que Arthur Weintraub, irmão do ex-ministro da Educação Abraham Weintraub, intermediaria os contatos entre o grupo e o Palácio do Planalto. Durante o encontro, o virologista Paolo Zanotto diz que Bolsonaro deve tomar "extremo cuidado" com as vacinas contra a covid-19.
— Não tem condição de qualquer vacina estar realisticamente na fase 3 — afirmou.
Naquela ocasião, a Pfizer já havia encaminhado cartas sobre suas vacinas ao Brasil, sem obter respostas do governo brasileiro.
— Com todo respeito, acho que a gente tem de ter vacina, ou talvez não — disse o virologista.
Após a divulgação do vídeo, o vice-presidente da CPI da Covid, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), afirmou que pretende convocar o agora deputado federal Osmar Terra (MDB-RS) e o virologista Paolo Zanotto para prestarem depoimento à comissão.
Em nota, a assessoria de Terra defendeu a reunião e disse que ocorreu com "presença de vários especialistas":
"O chamado gabinete paralelo não passa de uma ficção política. A ciência não é seletiva ou exclusivista. O presidente da República, Jair Bolsonaro, pode e deve ouvir opiniões diversas para tomar as mais relevantes decisões pelo povo brasileiro. A reunião divulgada recentemente ocorreu com a presença de vários especialistas, e consta na agenda oficial do presidente como uma audiência comum à atividade política".