E-mails obtidos pela Folha de S.Paulo, e divulgados nesta quarta-feira (30), mostram que o Ministério da Saúde negociou oficialmente a compra de vacinas contra a covid-19 com funcionários da Davati Medical Supply. Na terça (29), o jornal noticiou que um representante da empresa afirma ter recebido pedido de propina de US$ 1 por dose em troca da assinatura de um contrato para venda dos imunizantes.
As mensagens foram trocadas entre o então diretor de Logística do ministério, Roberto Ferreira Dias, o CEO da Davati, Herman Cardenas, e Cristiano Alberto Carvalho, que se apresenta como procurador da empresa. Os primeiros e-mails são do dia 26 de fevereiro deste ano.
Dias é apontado como autor do pedido de propina e teve exoneração anunciada na noite de terça-feira — após o surgimento das denúncias.
Nos e-mails obtidos pela reportagem, Cardenas fala da oferta de 400 milhões de doses da vacina da AstraZeneca/Oxford e cita Luiz Paulo Dominguetti Pereira como representante de empresa. Foi Dominguetti quem falou à Folha sobre o pedido de propina.
Segundo o jornal, a exigência de propina teria ocorrido durante um jantar em um restaurante de um shopping de Brasília, no dia 25 de fevereiro. De acordo com Dominguetti, o contrato não foi assinado porque a empresa se recusou a pagar o suborno.
"Este ministério manifesta total interesse na aquisição das vacinas desde que atendidos todos os requisitos exigidos. Para tanto, gostaríamos de verificar a possibilidade de agendar uma reunião hoje às 15h, no Departamento de Logística em Saúde", diz outro e-mail, datado de 26 de fevereiro — um dia depois do encontro no shopping.
Dias foi indicado ao cargo pelo líder do governo de Jair Bolsonaro na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR). O deputado está envolvido nas suspeitas que cercam a negociação da Covaxin, após ter o nome citado pelo deputado federal Luis Miranda (DEM-DF), em depoimento à CPI da Covid.