Governadores e líderes de oposição criticaram a fala do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) em entrevista à TV A Crítica, do Amazonas, na noite desta sexta-feira (23), na qual afirma que os militares seguirão suas ordens de tomar as ruas, caso necessário, contra as medidas de isolamento social.
— A postura demonstra mais uma vez o quanto Bolsonaro tem devoção pelo autoritarismo e alergia à democracia. Ele selou um pacto com a morte que só não é maior no Brasil por conta da ação de governadores e prefeitos — afirmou o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), de acordo com informações publicadas pelo jornal O Globo neste sábado (24).
Já o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), disse que a ameaça de Bolsonaro de usar as Forças Armadas nas ruas é "absurda" e lembrou que o Supremo Tribunal Federal (STF) deu o aval, desde abril do ano passado, para que governantes adotassem medidas restritivas durante a pandemia.
— Bolsonaro insiste em afrontar o Supremo, que já decidiu que as três esferas de governo podem e devem atuar contra o coronavírus. E também reitera essa absurda ameaça de intervenção militar contra os Estados, que não existe na Constituição. Ele deveria se dedicar mais ao trabalho e abandonar essas insanidades — disse.
O vice-presidente da Câmara, Marcelo Ramos (PL-AM), também criticou o presidente por tentar tirar o foco da compra de vacinas.
— Se o presidente quer que abra o comércio, (é) só ele vacinar mais rápido. (É) Só dar conta de cumprir a responsabilidade dele, que é comprar vacina – disse Ramos. — Ele (Bolsonaro) não tem que bater em governadores, tem que comprar vacina. Eu não falo com presidente sobre outra coisa que não seja vacina, kit de entubação e oxigênio.
Por fim, o líder de oposição da Câmara, deputado federal Alessandro Molon (PSB-RJ), ressaltou que, desde o início da pandemia, o presidente "sabotou as medidas restritivas" e tentou jogar a população e as Forças Armadas contra governadores e prefeitos. Para ele, Bolsonaro é o principal fator para que o "caos se instale no país".
— Mais uma vez, Bolsonaro viola os deveres e limites de seu cargo e afronta a Constituição. Já passou da hora de o Congresso processá-lo por seus crimes de responsabilidade. Enquanto não se fizer isso, ele vai continuar agindo assim — afirmou Molon.
Na entrevista concedida à TV A Crítica, Bolsonaro afirmou:
— Se tivermos problemas, nós temos um plano de como entrar em campo. E eu tenho falado: eu sou chefe supremo das Forças Armadas. Se precisar, iremos para ruas, não para manter o povo dentro de casa, mas para restabelecer todo o artigo 5º da Constituição, e, se eu decretar isso, vai ser cumprido esse decreto — disse.
Segundo ele, as medidas de isolamento social estariam descumprindo a Constituição.
— As Forças Armadas podem ir pra rua um dia sim, dentro das quatro linhas da Constituição, para fazer cumprir o artigo 5º, direito de ir e vir, acabar com essa covardia de toque de recolher, direito ao trabalho, liberdade religiosa, de culto, para cumprir tudo aquilo que está sendo descumprido por parte de alguns governadores, alguns poucos prefeitos, mas que atrapalha toda nossa sociedade — criticou.