O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), avaliou nesta quarta-feira (9) que o governo federal está "desesperado" para tomar conta do posto hoje ocupado por ele. Em entrevista coletiva, o parlamentar afirmou que só existe até o momento um candidato a sua sucessão, o deputado Arthur Lira (PP-AL), que ele definiu como "candidato do Bolsonaro". Também sustentou que o Planalto estaria disposto a jogar pesado e rasgar o próprio discurso na pauta econômica para elegê-lo.
Em tom de alerta, contudo, Maia disse que toda ação tem reação e, dependendo de como a articulação política do Executivo "operar" a eleição à Presidência da Câmara, a oposição ao governo na Casa poderia passar de 130 para 230 deputados. Segundo o deputado do DEM, estaria claro que o presidente Jair Bolsonaro quer um aliado no comando da Mesa Diretora para pautar projetos no campo de costumes.
— Discordo e não pautei — ressaltou.
— O governo que tem que fazer escolhas se, no período pós-eleição da Câmara, pretende continuar avançando em votações com quórum qualificado — apontou Maia. — O governo está desesperado para desorganizar de uma vez por todas a agenda do meio ambiente. De uma vez por todas interessado em flexibilizar a venda e entrega de armas neste País, entre outras agendas que desrespeitam a sociedade brasileira e as minorias — completou.
O atual presidente da Casa, no entanto, não revelou ainda qual colega receberá seu apoio para sucedê-lo a partir de fevereiro de 2021. Entre os nomes no páreo estão Marcos Pereira (Republicanos-SP), Baleia Rossi (MDB-SP), Luciano Bivar (PSL-PE), Elmar Nascimento (DEM-BA) e Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), mas a demora de Maia para definir o candidato já começa a provocar fissuras em seu grupo.
Ele voltou a destacar atributos já mencionados nos últimos dias, pontuando que o seu postulante vai focar na agenda de reformas econômicas e defenderá a independência da Câmara em relação aos outros poderes e a liberdade dos brasileiros. Além disso, virá do conjunto de deputados que Maia diz respeitar e admirar.
— Se eu quisesse impor meu nome, já teria escolhido, mas nesta Casa ninguém vence sozinho — comentou, reconhecendo que esse tipo de escolha gera "atrito".
Segundo o parlamentar, estaria "muito longe" da data da eleição da Mesa Diretora para definir o nome de seu grupo, e o candidato viria tão mais forte quanto mais pessoas forem ouvidas para escolhê-lo.
— Talvez por isso (ouvir posições distintas) nos últimos anos a Câmara tenha produzido tanto — emendou. — Não abrirei mão de construir convergência de diálogo, equilíbrio e respeito às minorias.
Diante da insistência em torno de quem poderia ser seu candidato de preferência, Maia comentou que, se alguém pudesse ganhar a presidência da Câmara dois meses antes da eleição, não haveria necessidade de realizar o pleito. Em termos gerais, ele defendeu não ter pressa para escolher um nome, mas, sim, para construir um candidato que represente o seu movimento, que ele definiu como "combate ao enfraquecimento da democracia".
Críticas a isenção para armas
Maia também se disse "perplexo" com a medida do governo de isentar os impostos de importação sobre a compra de armas e pistolas. Ele disse que a sociedade está em "pânico" com o aumento de casos e mortes decorrentes do coronavírus e que, até agora, ninguém sabe se haverá vacina e nem qual a posição do governo sobre esse assunto.
— No momento em que falamos em vacinas, o governo isenta a compra de armas — disse ele, em entrevista coletiva na Câmara. — Fico perplexo com a falta de sensibilidade do governo — acrescentou, ressaltando que a ocupação de leitos de hospitais cresce e já se esgotou em vários locais do País.
Em decisão publicada no Diário Oficial da União (DOU), o Comitê Executivo de Gestão da Câmara de Comércio Exterior (Gecex) reduziu de 20% para zero a alíquota do Imposto de Importação de revólveres e pistolas a partir do dia 1º de janeiro de 2021. Essa é uma medida na linha das promessas de campanha de Bolsonaro, que defende o armamento da população.
Maia disse que o governo não tem uma estratégia clara de enfrentamento à covid-19 e que a prioridade para políticas de armamento da população mostra "distorção ou falta de prioridade".
— Há certo pânico da sociedade, ninguém sabe se terá vacina nem posição do governo sobre assunto — disse.