O ataque que o ministro do Meio Ambiente (MMA), Ricardo Salles, desferiu nas redes sociais contra o general Luiz Eduardo Ramos, ministro da Secretaria de Governo da Presidência, passa diretamente por uma mobilização interna no Palácio do Planalto, para substituição de seu nome à frente do MMA.
O que seria um gesto mal calculado de Salles, que disse a Ramos que pare com sua "postura de Maria Fofoca", ao comentar uma reportagem do jornal O Globo, foi, mais concretamente, um rompimento, uma resposta a gestos silenciosos que, há meses, ocorrem dentro da cúpula do governo. Salles teria informações de que Ramos atua para minar sua atuação no MMA.
"@MinLuizRamos não estiquei a corda com ninguém. Tenho enorme respeito e apreço pela instituição militar. Atuo da forma que entendo correto. Chega dessa postura de #mariafofoca", escreveu na publicação.
Um dos episódios que mais incomodaram o titular da pasta do Meio Ambiente, conforme apurou o Estadão, foi o fato de Ramos ter atuado junto ao Ministério da Economia, para definir como deveriam ser feitas as imposições de limites de gastos para cada ministério que ocupa a Esplanada. Ao debater a divisão do bolo financeiro do governo, Ramos atuou para que se priorizasse liberações para os ministérios da Infraestrutura e do Desenvolvimento Regional. Para o MMA, no entanto, a orientação dada foi no sentido de impor limites.
A atribuição legal de definir como o governo federal gasta e arrecada seus recursos financeiros é do Ministério da Economia. É dentro do Palácio do Planalto, porém, que tudo isso é filtrado pela articulação política do governo, liderada pela Secretaria de Governo de Ramos.
Procurado pela reportagem, Ramos não comenta este ou qualquer assunto sobre o embate. Eke estava presente na reunião que definiu cada repasse e corte. Ao atender o Estadão, Ricardo Salles limitou-se a dar uma única declaração sobre o episódio:
— Esse assunto com Ramos está encerrado. Bola para frente.
Apesar das movimentações ministeriais previstas para janeiro do ano que vem, Salles tem afirmado a interlocutores que não tem planos de deixar o MMA e que seguirá tocando a pauta do presidente Jair Bolsonaro à frente da pasta. Sua interpretação sobre o embate com Ramos não é a de que partiu para um "tudo ou nada" ao criticar Ramos, mas que deu um recado claro ao general que muitos outros já gostariam de ter dado, tendo, inclusive, o aval do presidente para se manifestar, além do apoio do clã Bolsonaro.
Na manhã desta sexta-feira (23) ao comentar as declarações do ministro do Meio Ambiente, o vice-presidente Hamilton Mourão não escondeu o total incômodo com a situação. Mourão, que comanda o Conselho Nacional da Amazônia e passou a liderar a maior parte das ações de combate ao desmatamento na região, classificou como "péssimo" o que foi dito por Salles. Afirmou ainda acreditar no "arrependimento" de Salles. Falta combinar com o titular do MMA. Não há nenhum movimento neste sentido.
A declaração de Salles pode até ter desagradado Mourão, mas acabou expondo diversas insatisfações sobre a atuação de Ramos, que há meses passou a nutrir fama de "vazador" de informações contra seus pares, daí o apelido de "Maria Fofoca" escrito por Salles. A ala ideológica do governo Bolsonaro pesa contra o general, por ver nele um dos principais responsáveis pela aproximação do presidente com o chamado centrão do Congresso Nacional.
O histórico de desagrados inclui ainda pressão sobre o ministro da Economia, Paulo Guedes, e o ex-líder do governo na Câmara, o major Vitor Hugo (PSL-GO). No Ministério da Agricultura, nomeações para cargos indicadas por Ramos também têm incomodado a ministra Tereza Cristina.
Nesta sexta-feira (2), Salles passou toda a manhã junto ao presidente Jair Bolsonaro, durante a cerimônia em homenagem ao Dia do Aviador e da FAB, realizada em Brasília, para apresentação oficial do caça F-39 Gripen, desenvolvido em parceria pelo Brasil e Suécia. Em alguns momentos, Salles esteve, inclusive, ao lado do próprio general Ramos.
Na noite de quinta-feira (22), Salles e Ramos chegaram a trocar 30 segundos de palavras ríspidas por telefone, e desligaram. Nesta sexta-feira, após o evento do Gripen, almoçaram com o presidente Bolsonaro, entre outros ministros e membros do governo. Durante o almoço, trocaram apenas uma frase, para dizer que conversarão pessoalmente, em outra ocasião. Não há data para isso.