Em menos de um mês no cargo, Nelson Teich deixou o posto de ministro da Saúde na manhã desta sexta-feira (15). É a segunda saída de um ministro da pasta em meio ao combate à pandemia de coronavírus no Brasil. Durante entrevista à Rádio Gaúcha, o oncologista Stephen Stephani, amigo de Teich, falou sobre a decisão e reforçou: "trocas mostram que algumas decisões não estão certas".
— Ele vinha na linha de frente para identificar as dificuldades, não tem perfil de brilhar em entrevista. Desenhou projetos que têm sentido no ponto de vista técnico. (...) A aceleração do processo científico não funciona. Existe uma construção na busca por soluções, concessões científicas não dependem do humor. São dados — salientou Stephani.
Teich vinha passando pelo que vem sendo chamado de "processo de fritura". Uma pista de que a relação com o presidente não estava bem foi o momento de constrangimento em que o ministro foi avisado pela imprensa da decisão do presidente Jair Bolsonaro, em aumentar a lista de serviços essenciais. O chefe do Executivo nem sequer o consultou sobre a mudança.
Stephani ainda afirmou que negar os dados oferecidos pela ciência é "transgressão técnica", e que a leitura de não haver um caminho a curto e médio prazo gera polêmica e está mais "alinhada com os humores políticos do com que com a ciência". O oncologista também acrescentou que o antecessor, Luiz Henrique Mandetta, ofereceu projeto interessante, "mas não agradou".
Stephani demonstrou preocupação em relação à segunda troca em meio à pandemia, e afirmou que Teich estava sobrecarregado.
— Não há tranquilidade nesse tipo de posicionamento (trocas frequentes). Não dá nem tempo de desenvolver um projeto direito. Minhas últimas conversas com ele (Teich) eram apenas sobre projetos, e as respostas geralmente eram "agora não tô conseguindo", "já tá na minha pauta". Às vezes ficava uns dois ou três dias sem ver a mensagem. Estava trabalhando, estava sobrecarregado — disse.