No entorno da prefeitura de Rio Pardo, olhares curiosos no assunto que dominou as ruas nesta quarta-feira (27). O prefeito Rafael Barros (PSDB) foi preso em uma operação que apura desvios de R$ 15 milhões relacionados à administração da área da saúde. O procurador do município, Milton Coelho, também foi detido e o secretário da Saúde, Augusto Pellegrini, foi afastado.
— A saúde aqui é daquele jeito, e nas redes sociais o prefeito era malvisto — contou o pedreiro Luciano Silva, 35 anos.
O corretor de imóveis José Moraes, 57 anos, também falou ter ouvido comentários sobre supostos desvios, mas se disse satisfeito com a saúde na cidade:
— Estamos bem assistidos. Já usei o hospital e o INSS, e da minha parte, não tenho reclamações. Se há algo por trás disso, a gente não fica sabendo.
Em frente ao Hospital Regional do Vale do Rio Pardo, uma viatura da Polícia Federal (PF) seguia estacionada no final da manhã. A atendente confirmou que os agentes estavam na instituição. Duas entradas da emergência estavam abertas — para pessoas com sintomas de covid-19 e outra para os demais pacientes.
Mesmo na instituição, a sensação dos poucos pacientes na recepção era de normalidade, sem filas ou reclamações sobre o atendimento. Na fachada, o símbolo do grupo Abrassi dividia o espaço com o brasão do município — ao lado dos veículos da polícia.
A 150 quilômetros de Porto Alegre, Rio Pardo contrasta prédios novos, como o da prefeitura, alvo dos investigadores, e o do Clube Literário e Recreativo, em frente à sede do governo municipal. Em estilo colonial, a construção data do final do século 19. Na calçada do imóvel histórico, um grupo de taxistas se dividia:
— Ele vai se livrar disso, coloco minha mão na fogo — falava um deles sobre os alvos afastados.
— Mandou todo mundo embora do hospital da outra vez — atacava outro motorista, sobre a demissão de 165 funcionários da instituição, ação também investigada pela promotora da cidade.
Sem ocupação após as restrições a festas e eventos, o clube passou a ser usado como ambulatório de campanha para atendimentos a casos de covid-19.
O comerciante Jaime Cassepp, 67 anos, preferiu a cautela:
— É uma cidade boa de se morar, falem bem ou falem mal — e seguiu a caminhada pelas não tão calmas ruas de calçamento, próximo a Câmara de Vereadores.
CONTRAPONTO
O que dizem Fabiano Pereira Voltz, a Abrassi, a São Bento e o Isev:
GaúchaZH tentou contato, mas não conseguiu retorno. Dirigentes dessas entidades foram presos e os seus advogados ainda não falaram a respeito. Assim que retornarem o contato, sua versão será publicada.
O que diz o prefeito de Rio Pardo
A defesa de Rafael Reis Barros aguarda decisão do TRF-4 para ter acesso à investigação, e a partir dela realizar o contraditório. Ezequiel Vetoretti, Rodrigo Grecellé Vares e Eduardo Vetoretti