BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - Gigantes do chamado centrão, como PP e PL, estão gerenciando a distribuição de cargos do governo federal para atrair partidos menores para a base de apoio do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).
O "Diário Oficial" da União desta quarta-feira (6) trouxe a nomeação de Fernando Marcondes de Araújo Leão como diretor-geral do Dnocs (Departamento Nacional de Obras Contra as Secas), com salário de R$ 16.944,90.
A autarquia federal, vinculada ao Ministério do Desenvolvimento Regional, é responsável pela construção de barragens e açudes nas regiões áridas do país. Tem forte caráter assistencial no interior do Nordeste.
Parlamentares e um técnico do governo disseram à reportagem que a indicação de Leão para o cargo foi levada ao governo pelo líder do PP na Câmara, Arthur Lira (AL), um dos interessados em disputar a sucessão de Rodrigo Maia (DEM-RJ) na presidência da Câmara em fevereiro de 2021.
Procurado, Lira, que esteve no Palácio do Planalto no fim desta manhã, não respondeu à reportagem.
O novo diretor-geral do Dnocs, no entanto, não é do PP, mas do Avante (7 deputados), partido no qual ingressou em março deste ano. Antes, ele foi filiado por 32 anos ao PTB. Até hoje, Fernando Leão ocupava o cargo de gerente-geral do Programa de Proteção e Defesa do Consumidor (Procon) em Pernambuco.
Segundo relatos feitos reservadamente à reportagem por três parlamentares de duas siglas que integram o bloco do centrão, as legendas maiores têm um guarda-chuva com outras menores em busca de uma base de apoio para Bolsonaro no Congresso.
Entre os cargos negociados por eles com Bolsonaro estão Banco do Nordeste, Codevasf (Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba), FNDE (Fundo Nacional para o Desenvolvimento da Educação), Funasa (Fundação Nacional de Saúde) e secretarias do Ministério de Desenvolvimento Regional, entre outros.
Segundo um destes parlamentares, o PP (com 40 integrantes na Câmara) e os nanicos de seu grupo somam 80 deputados. O centrão como um todo tem cerca de 200 deputados, número suficiente para barrar ameaças contra Bolsonaro, de pautas-bomba a eventuais pedidos de impeachment.
Eleito com a promessa de acabar com o que chama de "velha política", baseada no toma lá, dá cá, o presidente iniciou nas últimas semanas negociações com líderes do centrão.
Quando questionado sobre o assunto, Bolsonaro vinha repetindo que só poderia ser cobrado de algo que fosse publicado no "Diário Oficial" da União. Nesta quarta-feira (6), quando isso aconteceu, Bolsonaro não parou para falar com os jornalistas na porta do Palácio do Alvorada, como costuma fazer diariamente.
O nome Fernando Leão chegou a Arthur Lira por intermédio do deputado Sebastião Oliveira (PE), que, embora ainda esteja filiado ao PL, comanda extraoficialmente o Avante em Pernambuco.
Fernando Leão foi secretário-executivo da Secretaria de Transportes de Pernambuco, pasta que foi comandada por Oliveira. A reportagem não conseguiu contato com eles. Oficialmente, o Avante é presidido no estado por Waldemar Oliveira, irmão de Sebastião Oliveira e primeiro suplente do senador Humberto Costa (PT-PE).
A indicação do filiado ao Avante irritou deputados do PP, que veem no gesto uma tentativa de Lira de angariar apoio para sua candidatura à presidência da Câmara. Além disso, estes parlamentares reclamam do tamanho dos cargos que estão sendo negociados, já que Bolsonaro tem blindado até agora o primeiro escalão de seu governo.