Pouco mais de uma hora depois de ser revelado o conteúdo do depoimento de Sergio Moro à Polícia Federal, o presidente da República Jair Bolsonaro comentou, em frente ao Palácio da Alvorada, sobre as afirmações do ex-ministro e confirmou interesse na Polícia Federal do Rio de Janeiro.
— O Rio é o meu Estado. Vamos lá: o caso porteiro, como foi a Polícia Federal no caso porteiro. Eu fui acusado de tentar matar a Marielle. Quer algo mais grave do que isso? O presidente da República acusado de um assassinato? A PF tinha que investigar— declarou.
Às câmeras, Bolsonaro mostrou, em seu celular, a troca de mensagens com Moro, na época em que ainda era ministro da Justiça e Segurança Pública. Ele apresentou, em um primeiro momento, o mesmo trecho da conversa revelada pelo Jornal Nacional no dia 24 de abril, depois do pedido de demissão.
Por um aplicativo de mensagens, Bolsonaro enviou ao então ministro uma matéria do site O Antagonista, intitulada "PF na cola de 10 a 12 deputados bolsonaristas". A reportagem cita o colunista Merval Pereira do jornal O Globo para dizer que o inquérito sobre fake news estava prestes a levar a Polícia Federal a fazer busca e apreensão em seus endereços, antes da pandemia.
Em seguida, o presidente escreveu: "Mais um motivo para a troca", em um referência a troca do diretor-geral da Polícia Federal (PF), Maurício Valeixo.
Bolsonaro confirmou a veracidade da mensagem e afirmou que encaminhou para Moro a mesma reportagem um dia antes, e que a resposta de Moro teria sido:
"Isso eh (sic) fofoca. Tem um DPF (departamento da Polícia Federal) atuando por requisição no inquérito da Fake News, e que foi requisitado pelo min (ministro) Alexandre. Não tem como negar o atendimento ah (à) requisição do STF".
Em nota, Moro afirmou que "buscou minimizar o fato", e que cabe a Bolsonaro explicar como o inquérito dos deputados aliados de Bolsonaro se relacionaria com a substituição do diretor-geral da PF. Confira a nota na íntegra:
Nota em relação à divulgação de nova mensagem de texto pelo Presidente da República sobre inquérito no STF, envolvendo deputados bolsonaristas:
O Presidente me enviou, nos dias 22 e 23 de abril, o mesmo link do site Antagonista com o título “PF na cola de 10 a 12 deputados bolsonaristas”. Nas duas vezes, ciente da intenção do Presidente de substituir o Diretor Geral da PF, busquei minimizar o fato, afirmando que quem conduzia o Inquérito era o Ministro Alexandre de Moraes e que a PF só cumpria ordens. A “fofoca” empregada na resposta à primeira mensagem tem esse sentido, de que a PF nada fazia além de seu trabalho regular. Já em relação à segunda mensagem do Presidente, não consegui responder à afirmação dele de que a existência deste inquérito seria “mais um motivo para troca na PF”. Entendo, respeitosamente, que cabe ao Presidente da República explicar como o inquérito se relacionaria com a substituição do Diretor-Geral da PF. Esclareço que a presente nota foi produzida apenas porque o próprio Presidente trouxe esse debate a público na data de hoje.
Curitiba, 05/05/2020, Sérgio Fernando Moro