Em mais um capítulo da guerra entre lideranças do PSL gaúcho, o deputado federal Nereu Crispim, presidente da sigla no Rio Grande do Sul, está tentando aprovar um requerimento na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) das Fake News para convocar dois de seus correligionários a prestarem depoimento. A proposição de Crispim aponta o deputado estadual Luciano Zucco e o federal Ubiratan Sanderson, ambos do PSL, como supostos mentores de "ataques cibernéticos que atentam contra a democracia e o debate público". No mesmo requerimento, Crispim solicita a convocação de três assessores de Sanderdon e dois de Zucco.
— Os funcionários deles publicavam, em horário de trabalho, nos gabinetes, ataques diretos a mim e minha esposa. Há pessoas que já relataram a existência de organização controlado por Zucco e Sanderson para produzir documentos que me difamassem — diz Crispim, membro titular da CPMI.
Zucco e Sanderson negam todas as imputações feitas pelo presidente do PSL gaúcho.
No total, Crispim pede a convocação de 22 pessoas. A CPMI das Fake News deverá analisar no retorno das sessões presenciais do Congresso, que está operando virtualmente na pandemia de coronavírus. Se aprovado o requerimento, as pessoas listadas devem comparecer para responder perguntas dos integrantes da comissão.
Entre os argumentos de Crispim, estão depoimentos de duas mulheres em audiências de processos judiciais movidos por ele por calúnia e difamação. O parlamentar ingressou com 45 ações na Justiça de Canoas contra pessoas que fizeram postagens consideradas ofensivas a ele. Em audiências de conciliação, duas processadas relataram terem sido arregimentadas para o PSL e orientadas a disparar e compartilhar mensagens difamatórias. "(A ré) informa que compareceu em duas reuniões e ingressou em três grupos de WhatsApp (...). Nestes grupos, a demandada informa que recebia solicitações para 'detonar' informações depreciativas do autor (Crispim). Os líderes do grupo, Sabin, Zucco, Ladislau e Sanderson, tinham uma parceria de atuação e possuem uma estrutura de controle dos participantes", disse a ré do processo, perante o juiz, em audiência judicial realizada em Canoas.
Crispim ainda solicita, no requerimento, a convocação de Armando Schneider da Silva, estudante de Direito e de Ciências Contábeis de Taquara. Já estão na CPMI relatórios a respeito da suposta divulgação de mensagens de ódio por Silva. Ele seria administrador de cerca de 40 páginas e perfis em redes sociais, em um sistema de replicação que teria largo alcance virtual. A deputada federal Joice Hasselmann (PSL-SP) aparece em grupos supostamente administrados por Silva como um dos alvos de ataques, assim como o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), o governador de São Paulo, João Doria (PSDB-SP), e o Supremo Tribunal Federal (STF).
A CPMI das Fake News apura a distribuição massiva de mensagens e a disseminação de conteúdos difamatórios sobretudo na campanha de 2018, tendo a família Bolsonaro como um dos principais núcleos de análise. Na segunda-feira (20), o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) ingressou com ação no STF solicitando o impedimento da prorrogação dos trabalhos da CPMI por mais seis meses, o que foi recentemente aprovado. Ele ainda pede a anulação de algumas sessões, inclusive a oitiva em que a ex-aliada Joice o acusou de ser líder de uma vasta rede de difamações e fake news.
CONTRAPONTOS
O que diz o deputado federal Ubiratan Sanderson
"Essa é uma alegação estapafúrdia, absurda e fantasiosa. Ele deve estar me confundindo com alguém, porque jamais perderia meu tempo difamando alguém que mal conheço e nem tenho contato, inexpressivo ideológica e politicamente. Certamente terá que provar as acusações que está fazendo, sob pena de responder criminal a civilmente. Fui vice-presidente da CPI do Bndes na Câmara dos Deputados, sei da importância do trabalho das comissões de inquérito e estou à disposição da CPI para falar tudo o que sei assim que convidado for".
O que diz o deputado estadual Luciano Zucco
"Não pretendo qualquer manifestação ou observação a respeito deste assunto. O deputado Nereu Crispim, ao que soube, acionou inúmeras pessoas, inclusive integrantes do meu gabinete, para comparecer à Justiça, que é um direito que cabe a qualquer pessoa. Tomei conhecimento, ainda, que o autor destas ações não logrou êxito na tentativa de processar pretensos autores de conteúdos de fake news. Cabe esclarecer, como adendo, que jamais orientei ou sugeri qualquer tipo de postagem aos integrantes do meu gabinete. Pelo contrário porque reitero, todos os dias, que cada um tem direito à opinião. E acrescento, porém: ninguém tem procuração para falar em meu nome, cabendo a cada um, individualmente, a responsabilidade daquilo que diz, escreve ou posta".
O que diz Armando Schneider da Silva
"Sobre o requerimento do deputado Crispim, acontece o mesmo equívoco já feito por Alexandre Frota. Frota também solicitou minha convocação, com a mesma citação, porém as páginas que ele mencionou, nenhuma é minha. Eu faço parte de um movimento, o Movimento Brasil à Direita, que cada membro tem a sua página, porém eu tenho apenas duas, que inclusive são mencionadas no meu Instagaram. Houve, sim, uma revolta muito grande por parte das pessoas que ajudaram na campanha de 2018, por parte de deputados que romperam com o presidente Bolsonaro, mas da minha parte não houve nenhuma propagação de fake news, nem houve publicação mencionando o deputado Crispim, o que inclusive já foi provado".