O ministro da Economia, Paulo Guedes, pediu a empresários representantes do comércio para que mantenham os pagamentos em dia, mesmo com as lojas fechadas devido ao isolamento social provocado pelo coronavírus. A intenção, de acordo com Guedes, é não colapsar setores que prestam serviços essenciais neste momento, como companhias de energia elétrica e telecomunicações.
— Vamos manter os pagamentos em dia, para não destruirmos os serviços que estamos usando. Se estamos usando luz, vamos pagar a conta de luz para não termos descontinuidade. Temos de manter oxigenada a economia brasileira. Não podemos cair na atração fatal do calote, da falta de pagamento porque descontinua a rede de produção nacional. Podemos renegociar tudo, mas não podemos desorganizar a rede de pagamentos — afirmou o ministro.
Aos empresários ligados à Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), Guedes tentou passar uma mensagem tranquilizadora, afirmando que o governo federal está planejando uma saída para “furar” a “segunda onda” que atingirá o país por conta do coronavírus. Na visão do ministro, a “primeira onda” se refere aos esforços para não colapsar o sistema de saúde. Segundo ele, para combater os efeitos da covid-19, serão desembolsados R$ 800 bilhões nos próximos três meses, acarretando possível déficit de R$ 419 bilhões para este ano. A “segunda onda” é o impacto do isolamento na economia. Para contê-la, estão sendo estudadas mais medidas por técnicos do Ministério da Economia:
— Sabemos que a arrecadação vai cair, mas vamos seguir mantendo-nos de mãos dadas.
Os representantes dos lojistas fizeram uma série de pedidos: o mais citado é a ampliação do crédito para esse setor. Glauco Humai, presidente da Associação Brasileira de Shopping Centers, que fazia parte da videoconferência com Guedes, pediu linha de crédito específica para os donos desses empreendimentos e para lojistas via Banco Nacional de Desenvolvimento Social (Bndes), além de pedir articulação com os parlamentares para que eles não aprovem projetos que podem prejudicar ainda mais a situação do comércio. Os shoppings, de acordo Glauco Humai, representam 3% do PIB e geram 3 milhões de empregos, com 135 mil lojas no Brasil.
Guedes concordou com as propostas e pediu para que ele procurasse o presidente do banco, Gustavo Montezzano, que, segundo o ministro, está com “bala na agulha”, já que tem disponível R$ 40 bilhões para financiar folha de pagamento das pequenas e médias empresas. Já operações de crédito para os shoppings também poderão ser feitas, uma vez que está sendo estudada ampliação desse programa. Sobre a questão dos projetos que estão sendo discutidos no Congresso, Guedes disse que os parlamentares estão bem intencionados, “querendo ajudar” contra a crise. Ressaltou que possui boa relação com os parlamentares e já conversou para que deputados e senadores “resistam”, explicando que se for aprovado algum tipo de moratória a aluguel ou outras contas, como a de energia elétrica, por exemplo, pode “acabar com nosso futuro”.
Foi sugerido ao ministro também flexibilizar o trabalho em feriados e domingos, como forma de recuperar as perdas provocadas no primeiro semestre. A proposta foi classificada como “excelente” por Guedes, que poderá colocar em prática nos próximos dias. Além da ajuda para o setor imobiliário, empresários pediram que o governo pense uma forma de capitalizar o consumidor, que sustenta a cadeia de consumo.