Minutos depois de o presidente da República Jair Bolsonaro fazer um pronunciamento com duras críticas a Sergio Moro, o ex-ministro rebateu uma das suas declarações no Twitter. Moro afirmou que a permanência do ex-diretor-geral da Polícia Federal (PF) Maurício Valeixo "nunca foi utilizada como moeda de troca para minha nomeação para o STF".
"Aliás, se fosse esse o meu objetivo, teria concordado ontem com a substituição do Diretor Geral da PF", declarou Moro.
Em um pronunciamento de 46 minutos, Bolsonaro fez diversas críticas ao ex-ministro. Ele afirmou que Moro pediu que a troca do diretor-geral da Polícia Federal, Maurício Valeixo, fosse feita em novembro, quando o presidente poderia indicá-lo para a vaga de Celso de Mello no Supremo Tribunal Federal (STF). Mais cedo, na coletiva em que anunciou a sua demissão, Moro já havia afirmado que nunca houve negociação pela vaga no STF.
Bolsonaro também disse que Moro fez acusações "infundadas" e que o ex-ministro o quer fora da cadeira presidencial.
— Hoje, alguns deputados tomaram café da manhã comigo. Eu lhes disse: "Hoje, vocês vão conhecer quem realmente não me quer na cadeira presidencial. Esse alguém não está no poder judiciário, nem está no parlamento brasileiro". Não lhes disse o nome. Falei: "Vocês vão conhecê-lo às 11h". Veio com a cunha — declarou.
Moro pediu demissão do Ministério da Justiça na manhã desta sexta-feira (24), poucas horas depois de a exoneração do agora ex-diretor-geral da Polícia Federal (PF) Maurício Valeixo ser publicada no Diário Oficial da União. Moro afirmou que a exoneração de Valeixo nunca foi assinada por ele.
Depois, Moro falou que Valeixo estava "cansado de ser assediado, desde agosto do ano passado, pelo presidente", e reiterou que não houve qualquer pedido de demissão e que o decreto de exoneração não passou por ele.
Enquanto acontecia o pronunciamento de Bolsonaro, o procurador-geral da República, Augusto Aras, pediu um inquérito ao Supremo Tribunal Federal (STF) para apurar os fatos narrados e as declarações feitas pelo então ministro da Justiça.
O pedido da PGR, autuado no STF sob o número INQ 4.829, aponta a eventual ocorrência, em tese, dos crimes de falsidade ideológica, coação no curso do processo, advocacia administrativa, prevaricação, obstrução de Justiça, corrupção passiva privilegiada, denunciação caluniosa e crime contra a honra.
"A dimensão dos episódios narrados revela a declaração de ministro de Estado de atos que revelariam a prática de ilícitos, imputando a sua prática ao presidente da República, o que, de outra sorte, poderia caracterizar igualmente o crime de denunciação caluniosa", aponta o procurador-geral.