BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - Em pronunciamento em rede nacional nesta quarta-feira (8), o presidente Jair Bolsonaro defendeu o uso da cloroquina em pacientes com o novo coronavírus e afirmou que sempre colocou a vida em primeiro lugar.
Bolsonaro disse que respeita a autonomia dos governadores, mas destacou que não foi consultado sobre medidas de isolamento social que fecharam comércios e restringiram a circulação das pessoas.
"Respeito a autonomia dos governadores e prefeitos. Muitas medidas de isolamento são de responsabilidade exclusiva dos mesmos. O governo federal não foi consultado sobre sua amplitude", afirmou o presidente.
"Vivemos um momento ímpar em nossa história. Ser presidente é olhar o todo e não apenas as partes. Nosso objetivo principal sempre foi salvar vidas", disse.
Este é o quinto discurso de Bolsonaro sobre a Covid-19, o quarto desde que a OMS (Organização Mundial da Saúde) declarou a pandemia do novo coronavírus.
A declaração ocorre após tensões recentes, em especial entre Bolsonaro e o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, que chegou a esvaziar as gavetas após o presidente ameaçar "usar sua caneta" contra "ministros estrelas".
Bolsonaro repetiu diversas vezes a aliados e em reuniões no Palácio do Planalto que poderia trocar o titular da Saúde no meio da pandemia, mas acabou não fazendo a mudança em um momento em que se viu isolado.
Pela primeira vez desde o início da pandemia, Bolsonaro se solidarizou com as famílias dos mortos pela doença.
No pronunciamento desta quarta-feira, o presidente voltou a repetir o discurso do diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, e disse que "cada país tem suas particularidades, a solução não é a mesma para todos".
Bolsonaro voltou a usar a fala do dirigente de forma distorcida para defender a retomada das atividades no Brasil. Ele disse que "os mais humildes não podem deixar de se locomover" e voltou a repetir que as consequências das paralisações não podem ser mais danosas do que a doença em si.
"Com esse espirito instruir meus ministros após ouvir pesquisadores, cientistas e chefes de estado sobre a possibilidade de tratamento", afirmou, ao defender o uso da hidroxicloroquina.
O presidente disse ainda ter conversando com o médico Roberto Kalil, admitiu ter usado o medicamento para tratar-se da Covid-19.
"[Ele] não só usou bem como a ministrou para dezenas de pessoas. Estão todos salvos", afirmou o presidente.
Segundo Bolsonaro, o médico teria dito que preferiu usar a hidroxicloroquina apesar da ausência de estudos conclusivos sobres seus efeitos para não se arrepender no futuro.
O presidente disse ainda que o médico "poderá entrar para história como tendo salvo milhares de pessoas"
Em discursos anteriores na TV, Bolsonaro criticou explicitamente governadores dos estados por adotarem medidas de isolamento social, e também a imprensa por criar, segundo ele, "pânico" na população.
Em uma das falas, chamou a doença de "gripezinha" e disse que seu "histórico de atleta" o impediria de ter complicações caso contraísse a doença.
Bolsonaro tem defendido o isolamento apenas parcial da população, dos grupos com maior risco de contaminação, de forma que parte dos trabalhadores possam sair.
Para especialistas e o próprio Ministério da Saúde, a estratégia é ineficaz.
Em pronunciamento em 24 de março, o presidente foi explícito na defesa do chamado isolamento vertical, restrito a idosos e pessoas com doenças preexistentes.
Já em outro, no dia 31, mudou o tom de seu discurso e pediu um pacto nacional para o enfrentamento à pandemia.
Agradeço e reafirmo a importância da colaboração e a necessária união de todos num grande pacto pela preservação da vida e dos empregos: Parlamento, Judiciário, governadores, prefeitos e sociedade, declarou naquele discurso.
Bolsonaro disse no dia 31 que o país enfrenta um grande inimigo. "Estamos diante do maior desafio da nossa geração. Minha preocupação sempre foi salvar vidas."
O pronunciamento desta quarta-feira foi feito após Bolsonaro se reunir com presidentes de partidos do chamado centrão, como o senador Ciro Nogueira (PP-PI) e o vice-presidente da Câmara, Marcos Pereira (Republicanos-SP).
Pereira acompanhou a gravação do pronunciamento desta noite e chegou a sugerir mudanças no texto lido por Bolsonaro.
No último fim de semana, como mostrou a Folha de S.Paulo, os dirigentes do Congresso se recusaram a ter uma conversa com Bolsonaro, incomodados com a postura do presidente. Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara, e Davi Alcolumbre (DEM-AP), presidente do Senado, enviaram a Bolsonaro o recado de que a saída de Mandetta dificultaria o diálogo entre Executivo e Legislativo.