Após ter chamado a população a participar das manifestações deste domingo (15), o presidente Jair Bolsonaro negou nesta quarta-feira (11) que tenha feito uma convocação para o ato. A manifestação tem em sua pauta a defesa de Bolsonaro, mas parte dos organizadores do protesto levanta bandeiras contra o Legislativo e o Judiciário, o que tem criado um desgaste na relação entre o Planalto e o Congresso.
— Eu não convoquei ninguém. Pergunta para quem convocou. Você pergunta para quem convocou — respondeu Bolsonaro, ao ser questionado se o avanço da crise do coronavírus impacta a organização dos atos pró-governo marcados para este domingo em diferentes cidades do país.
Bolsonaro deu as declarações na entrada do Palácio da Alvorada, em Brasília, após cumprimentar simpatizantes.
Ao contrário do que disse nesta quarta-feira, Bolsonaro fez na semana passada um chamamento público para engrossar as manifestações. A convocação dos atos provocou desgaste do Planalto com as cúpulas do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Congresso.
Em 7 de março, durante uma escala em Boa Vista, Roraima, para uma viagem à Flórida, nos Estados Unidos (EUA), Bolsonaro fez um discurso para cerca de 400 pessoas e disse que a mobilização popular não era contra o Legislativo ou o Judiciário, mas "pró-Brasil".
— É um movimento espontâneo, e o político que tem medo de movimento de rua não serve para ser político — afirmou o mandatário na ocasião. — Então participem, não é um movimento contra o Congresso, contra o Judiciário. É um movimento pró-Brasil — disse.
— Quem diz que é um movimento impopular contra a democracia está mentindo e tem medo de encarar o povo brasileiro — acrescentou.
Atos foram defendidos pela Secretaria de Comunicação Social do governo
Além da fala de Bolsonaro, a Secretaria de Comunicação Social da Presidência (Secom) publicou uma mensagem nas redes sociais que também defende as manifestações.
Em reação à mensagem, a bancada federal do PSOL ingressou com uma representação no Ministério Público Federal (MPF) contra o presidente, o ministro da Secretaria do Governo Luiz Eduardo Ramos e o chefe da Secom, Fabio Wajngarten.
O pedido ressalta que a postagem viola o princípio da impessoalidade, previsto na Constituição. "No fundo, é uma crítica pessoal, de cunho personalíssimo e antidemocrático, com orientação contrária à Constituição Federal, sem nenhum tipo de interesse público envolvido", observou.
"Eu não sou médico, não sou infectologista"
O presidente foi questionado ainda nesta quarta sobre o fato de a Organização Mundial da Saúde (OMS) ter declarado o coronavírus uma pandemia. Em falas recentes, Bolsonaro disse que o vírus estava sendo "superdimensionado".
— Vou ligar para o (ministro da Saúde, Luiz Henrique) Mandetta. Eu não sou médico, não sou infectologista. O que eu ouvi até o momento (é que) outras gripes mataram mais do que esta — declarou Bolsonaro.
O Brasil já soma 52 casos confirmados do novo coronavírus. Os dados são de plataforma do Ministério da Saúde atualizada com dados até o início da tarde desta quarta.
Entre as novas confirmações, 11 ocorreram em São Paulo, cinco no Rio de Janeiro, uma no Rio Grande do Sul e outra no Distrito Federal. Com a atualização, ao menos sete Estados e o Distrito Federal já têm registros do covid-19. O maior número ocorre em São Paulo, onde há 19 casos confirmados até o momento.
Nesta semana, o presidente pressionou o Congresso ao dizer que a população não quer o parlamento como "dono do destino de R$ 15 bilhões" do orçamento. As declarações ocorreram às vésperas das manifestações de bolsonaristas que miram ataques ao Legislativo e ao Judiciário — e que ele nega ser contra os dois Poderes. Bolsonaro atrelou os atos do dia 15 de março ao acordo que selou a divisão do orçamento de R$ 30 bilhões entre governo e Congresso e que teve aval do próprio presidente.
O chefe do Executivo nacional já havia motivado indignação com os presidentes dos outros Poderes no sábado (7), durante evento em Roraima, quando fez uma convocação aos protestos do dia 15, aos quais classificou como "espontâneos" e "pró-Brasil".
Bolsonaro também voltou nesta semana a colocar em xeque a Justiça Eleitoral ao afirmar, sem apresentar provas, que houve fraude na eleição de 2018 e que, na prática, ele foi eleito no primeiro turno. Questionado se poderia apresentar as tais provas nesta quarta-feira, encerrou a conversa e entrou no carro.