A Polícia Federal prendeu na manhã desta quinta-feira (5), no Rio de Janeiro, o secretário nacional de Justiça do governo Michel Temer, Astério Pereira dos Santos. A ofensiva faz parte de uma nova etapa da Lava-Jato. Outras sete pessoas foram presas até o momento.
Por determinação do juiz Marcelo Bretas, são 34 mandados de busca e apreensão em andamento no Rio. Foram nove mandados de prisão, seis em caráter preventivo e três em caráter temporário. A PF ainda não informou o nome de todos os detidos.
Astério é suspeito de lavagem de dinheiro e de ter facilitado a fuga do empresário Arthur Cesar Soares Filho, conhecido como Rei Arthur. Soares é acusado de atuar na compra de votos para a escolha do Rio de Janeiro como sede dos jogos Olímpicos de 2016.
Procurador aposentado do Ministério Público do Rio, Astério foi secretário de Administração Penitenciária do governo de Rosinha Garotinho. A PF também cumpre mandado de prisão do filho de Astério.
Segundo a PF, são alvos da investigação pessoas físicas e jurídicas suspeitas de participação em uma suposta rede de pagamentos de propina relacionada às atividades da Secretaria Estadual de Administração Penitenciária (Seap) do Rio de Janeiro.
"Tal rede seria organizada por empresários e agentes públicos com apoio de 2 escritórios de advocacia. Entre os agentes públicos envolvidos há um ex-procurador de Justiça, e o esquema beneficiaria integrantes do Tribunal de Contas do Rio de Janeiro", diz nota da PF.
Ainda segundo a PF, "o dinheiro recebido por meio desse esquema de corrupção estaria sendo dissimulado por meio do uso de pessoas jurídicas, laranjas e familiares dos envolvidos".
Entre os alvos da operação, está um delegado da Polícia Civil, que ainda não foi preso.
Secretário Nacional de Justiça entre março e novembro de 2017, Astério é suspeito de facilitar a fuga de Arthur Soares ao alertá-lo sobre a existência de um pedido de prisão contra ele apresentado pelo Ministério Público Federal (MPF).
Em delação, o empresário Ricardo Rodrigues, sócio do foragido, conta que estava em Lisboa, Portugal, ao lado de Arthur Soares no dia 25 de agosto de 2017, quando este recebeu um telefonema do Brasil. Alarmado, Arthur Soares precipitou uma viagem aos Estados Unidos (EUA), onde permanece até hoje. Dez dias depois desse telefonema, Arthur Soares foi alvo de uma operação.
Ainda segundo o relato de Ricardo Rodrigues, Arthur Soares teria afirmado obter informações do Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional do Ministério da Justiça, subordinado à secretaria que era ocupada por Astério.
A relação de Astério Pereira e Arthur Soares é também descrita em acordo de colaboração firmado pelo ex-presidente do Tribunal de Contas do Estado (TCE) do Rio de Janeiro Jonas Lopes Filho e por seu filho Jonas Lopes de Carvalho Neto. Em seus depoimentos, pai e filho apontaram Astério e o amigo Carlson Ruy Ferreira — também preso nesta quinta-feira — como os reais sócios da empresa Denjub, fornecedora de alimentos para presídios quando os dois estavam à frente da Seap.
Secretário de Administração Penitenciária entre 2003 e 2006, Astério nomeou Carlson como diretor-geral de administração de finanças da pasta. Sob o comando da dupla, a Seap contratava os serviços da Denjub. Segundo o Ministério Público, Carlson e Astério também atuaram no pagamento de vantagens indevidas à organização criminosa chefiada pelo ex-governador Sérgio Cabral Filho.
Os dois teriam organizado, por exemplo, esquema de pagamento de propina a conselheiros do TCE, valendo-se de recursos de um fundo especial do tribunal, no total de R$ 160 milhões, que foram repassados para fornecimento de alimentos para presídios.
Além de Astério, Carlson e seus filhos foram presos suspeitos de colaborarem com o esquema de lavagem de capital, atuando como laranjas.