Bolsonaro voltou a criticar medidas de contenção da pandemia tomadas por governadores e prefeitos. Dois dias depois de se referir ao coronavírus como "gripezinha" e "resfriadinho", o presidente disse se importar com vidas e empregos que serão perdidos. A fala foi transmitida por vídeo em rede social, na noite desta quinta-feira (26).
— Não to criticando os governadores. Crítico alguns poucos governadores e prefeitos que erraram na dose do remédio. E uma dose errada vira veneno. O povo tá desesperado, quer trabalhar. Todos estamos preocupados com a vida, queremos que não haja morte nenhuma por causa do vírus. Mas é como uma chuva, vamos sair e nos molhar, mas vamos tocar o barco — comparou, mas depois admitiu preocupação:
— A preocupação tem que existir? Tem. E a primeira pessoa a se preocupar é você que tem idoso dentro de casa. Não pode esperar que o governo faça tudo. O governo faz tudo só nas ditaduras. Em Venezuela e Cuba deve estar uma maravilha. Sabe se morreu alguém lá? Não se sabe.
Segundo a última atualização do Ministério da Saúde do Brasil, em números divulgados às 17h desta quinta, 77 pessoas já morreram por conta do coronavírus no país. Bolsonaro citou o primeiro falecimento pela doença em Goiás, confirmado nesta quinta, para repetir sua opinião de que a covid-19 não é necessariamente a causa principal dos óbitos.
— A gente lamenta. Mas a senhora tinha outras três doenças que podem ter matado ela. Às vezes é até uma fraqueza da pessoa, pela vida pregressa dela — declarou.
O presidente estava sentado à tradicional mesa de suas transmissões, sem máscara, entre uma intérprete de Libras e o presidente da Caixa Econômica Federal, Pedro Guimarães, ambos com máscaras.
Aposta em medicamento
Na frente deles, duas caixas de remédios à base de cloroquina e um recipiente com substância que aparentava ser álcool em gel — ninguém interagiu com o item durante os 36 minutos de vídeo. As embalagens de medicamentos foram manuseadas e mostradas por Bolsonaro à câmera mais de uma vez.
O presidente voltou a opinar que o composto químico pode curar infectados pela covid-19, embora ele ainda esteja em fase de testes para combater a doença.
— Me perguntaram se eu não preferia esperar que confirmem a eficácia do remédio. Quanto leva isso? Seis meses. Não tem como esperar — exclamou, admitindo que não era autoridade médica para falar sobre o assunto, mas mesmo assim arriscou:
— Eu não sei a dose certa, mas me parece que uns 10 comprimidos resolvem.
Crise financeira
Sobre possível perda de empregos por conta de medidas de combate à pandemia, o presidente manteve o discurso de que a população precisa seguir trabalhando.
— O vírus chegou e é uma onda que vai passar. Agora, o que não pode chegar é uma onda de desemprego, porque essa demora para passar. E leva a família toda — ressaltou, alertando:
— Amigo, sem grana tu morre de fome, de depressão, suicídio, vem violência atrás disso. há uma relação direta entre o percentual de desempregados e violência.
Para enfatizar sua desaprovação as medidas de contenção, associou o isolamento social ao aumento de casos de agressões a mulheres registrado nos últimos dias:
— Aumentou a violência contra mulher. Qual a origem disso? É o confinamento, todo mundo fica em casa, falta de dinheiro. Onde falta o pão todos brigam e ninguém tem a razão.
Anúncios econômicos
O presidente da Caixa Econômica Federal, Pedro Guimarães, participou da transmissão. Ele citou medidas de auxílio financeiro em andamento. Hospitais filantrópicos e pequenos empreendedores terão novas linhas de crédito com condições específicas de juros.
Bolsonaro aproveitou para sugerir o pagamento de R$ 100 extras aos beneficiários do Bolsa Família nos meses de pandemia. O presidente da República também disse que recomendou o aumento no auxílio para os trabalhadores autônomos que não têm condição de trabalho durante a contenção do vírus, de R$ 200 para R$ 600.