O ex-presidente da Odebrecht, Marcelo Odebrecht, disse nesta sexta-feira (4), em depoimento à Justiça Federal, que é "injusto" acusar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva de participação na negociação de propina de US$ 40 milhões em troca da liberação de financiamento do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) ao grupo Odebrecht.
De acordo com ele, primeiro é necessário esclarecer "contradições" em depoimentos do ex-ministro Antonio Palocci e de Emilio Odebrecht — seu pai — sobre participação de Lula no caso. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
— É tremendamente injusto se fazer qualquer espécie de acusação ou condenação de Lula sem que se esclareçam as contradições dos depoimentos de meu pai e Palocci. Como eu disse, não tratei de Lula. Tudo que eu soube de Lula foi através de meu pai, Palocci e Alexandrino (Alencar, ex-executivo da Odebrecht que também firmou delação). E os depoimentos deles estão cheios de contradições — disse Marcelo Odebrecht.
A afirmação de Marcelo contrasta com o que ele próprio havia afirmado em depoimento, quando firmou um acordo de colaboração premiada com a Procuradoria-Geral da República, homologado em 2017. Na época, o empreiteiro deu a entender que Lula teria direcionado o pedido feito pelo ex-ministro petista Paulo Bernardo. Com base neste depoimento, foi aberto um inquérito para investigar Lula, Paulo Bernardo, Palocci e a então senadora e hoje deputada federal Gleisi Hoffmann (PT-PR).
Segundo a publicação, no depoimento desta sexta, quando perguntado se lidou com Lula sobre o assunto, Marcelo disse que não e que só tinha informações que tinham sido relatadas a ele — nenhuma diretamente por Lula.
— A essa altura do campeonato, eu não posso dizer nada. Porque eu digo uma coisa, tá lá nos e-mails, meu pai disse que falou comigo, falou com Lula outra. Então eu acho que precisa esclarecer a participação de Lula especificamente, ela precisa ser esclarecida por meu pai e Alexandrino, por meu pai e Palocci — contou.
Marcelo também afirmou que o assunto foi levado a ele por Paulo Bernardo.
— E a pessoa com quem eu conversava sobre viabilizar as questões técnicas do BNDES era ele, porque era o ministro na época. Mas a negociação do "rebete" (propina) em si foi mais com o Antonio Palocci — disse.
O depoimento faz parte de uma ação penal que tem como réus Lula, Palocci, Paulo Bernardo e dois ex-executivos da Odebrechet.
Na denúncia original, apresentada em abril de 2018 pela então procuradora-geral da República Raquel Dodge, Lula, Palocci e Paulo Bernardo foram acusados de terem acertado o recebimento, entre 2009 e 2010, de US$ 40 milhões (R$ 64 milhões em valores da época) em troca do aumento do limite da linha de crédito número 4 do BNDES para exportação de bens e serviços entre Brasil e Angola, em benefício da Construtora Odebrecht.